28.5.06

Figura de retórica: paralipse

Não dizer dizendo


     Uma vizinha minha (não, não é a do «estendedal») usa, inconscientemente, uma figura de retórica de magnífico efeito, que é a paralipse. Esta figura consiste em fingir-se querer omitir o que todavia se vai dizendo. Como fala pelos cotovelos, diz-nos amiúde (isto não é um plural majestático: é, mais precisamente, no sentido de dizer a todos os presentes) «não querendo interromper, mas já o fiz…», o que irrita um pouco toda a gente. Nem quero falar, porque é mais privado, da mania que esta senhora tem de se pretender colega de faculdade de vários ministros, de gerações muito distantes entre si… Viram? Comecei por escrever «nem quero falar», mas falei: isto é uma paralipse.
      Também referida nos antigos manuais de retórica como paraleipsis, paralepsis, preterition e occupatio, a palavra chegou-nos através do latim paralipsis, mas o étimo é grego, de para, «lado», e leipein, «deixar». Entre nós é também conhecida como preterição.



1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, muito bom esse texto. Uma amiga minha tem como título de sua poesia esse nome "paralipse" cujo significado desconhecia. Aqui, no seu blog, saciei minha dúvida.
Muito obrigada!
Silfides.