12.5.06

Meia dúzia

Estranhas estranhezas

Duarte Calvão, crítico gastronómico do Diário de Notícias, está no Brasil. «Por falar em boas fórmulas para almoço, não podia deixar de visitar o Bistrô 66. Lê-se “meia-meia”, já que os brasileiros, por motivos misteriosos, tratam o seis por meia-dúzia. Como consideram a palavra comprida, abreviam para “meia”» (11.5.2006, p. 33). Não percebo a estranheza: do lado de cá do Atlântico não se «trata» também assim, ocasionalmente, o seis? Com mais razão teria escrito ser estranho dizer «meia» em vez de «seis». Mas a isto já Duarte Calvão respondeu: «Como consideram a palavra comprida, abreviam para “meia”.» Vamos ver o que dizem os dicionários.

Houaiss:
meia num. n. card. B red. de meia dúzia. Uso empr. esp. no discurso oral para diferençar o som da pal. seis do da três, como, p. ex., na frase: o prefixo dois-meia-três (263) é dos telefones da zona central do Rio.

Aurélio (2.ª ed. revista e ampliada):
meia. Num. O número 6, usado na fala, para evitar confusão com o número três: O ônibus da linha quatro-três-quatro (434) e quatro-meia-quatro (464) unem o Grajaú ao Leblon.

Entretanto, ficou resolvida outra confusão: nem lá, nem cá, nem pelo caminho se escreve «meia-dúzia» com hífen. Consultados o Aurélio referido, a 6.ª edição do minidicionário Aurélio (2004) e o libérrimo Dicionário da Academia, não se vê a locução registada com hífen. O que se verifica é precisamente o oposto: dicionários como o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado, ter, à cautela, um verbete autónomo para
Meia dúzia, s. f. Colecção de seis.│Pequena quantidade; pequeno número.

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