22.7.06

Mandado, Antilíbano, pezinho, «laser»


Última colheita


1
«Na sequência da publicação da peça jornalística, foram revalidados os mandatos de captura contra Casaco e o respectivo procedimento criminal considerado, pelo juiz Cândido Gouveia, “imprescritível”» («Chefe da brigada da PIDE que matou Delgado morre aos 91 anos», FC, Diário de Notícias, 20.07.2006, p. 40). A confusão entre «mandado» e «mandato» continua, pois, e em vários jornais. Não direi todos, mas os melhores dicionários registam para o vocábulo «mandado» o significado de ordem, determinação superior, e por isso «mandado judicial», «mandado de captura», «mandado de prisão», etc. Para «mandato», e o étimo é o mesmo, sendo por isso palavras divergentes, os dicionários registam o significado de autorização conferida a alguém, delegação, procuração, e por isso «mandato eleitoral» «mandato parlamentar», etc.

2

«Com 120 quilómetros de comprimento e dez de largura, fica situado [vale de Bekaa, que representa 40% do solo arável do Líbano] entre os montes Líbano e Anti-Líbano» («Líbano de A a Z», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 19.07.2006, p. 4). O prefixo anti-, já aqui o escrevi mais do que uma vez, é seguido de hífen quando o elemento imediato tem vida própria e começa por h, i, r ou s. Contudo, a regra é omissa em relação a nomes próprios, quer antropónimos, quer topónimos, pelo que teremos de recorrer à analogia. Ora, se se escreve «Tauro» e «Antitauro», outra cadeia montanhosa, decerto que convém escrever «Líbano» e «Antilíbano».

3

«Estudo analisa reacção de recém-nascidos ao teste do pézinho» («Amamentação ajuda bebés a suportar a dor», IGS, Público, 20.07.2006, p. 28). Como «pézinho» surge três vezes no artigo, é de supor que não se trata de uma gralha. Os diminutivos dos substantivos acentuados perdem, isto já todos devíamos saber, o respectivo acento gráfico na formação do diminutivo. Assim, temos: avó faz avozinha; boné faz bonezinho; café faz cafezinho; chaminé faz chaminezinha; chapéu faz chapeuzinho; jacaré faz jacarezinho; pé faz pezinho, etc. Esta regra foi estabelecida pelo Decreto n.º 32/73, de 6 de Fevereiro de 1973, que estipula: «São eliminados da ortografia oficial portuguesa os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo mente e com os sufixos iniciados por z»: sozinho, amavelmente, cafezinho, unicamente.

4

«As frases são inscritas na casca do ovo recorrendo a um complexo sistema de raio lazer, que deixa uma marca ultrafina que não pode ser apagada» («CBS anuncia nova temporada televisiva nas cascas dos ovos», Rita Siza, 20.07.2006, Público, p. 47). «Lazer» aparece duas vezes no artigo, fazendo supor que não se trata de uma mera gralha. Raio laser. O itálico é aqui obrigatório. Se se tratar de uma tentativa, ainda que desastrada, de aportuguesamento, estamos mal, pois já temos a proposta absurda do «icebergue». Raios «lêiser»? «Láser»?

3 comentários:

Anónimo disse...

Queria só acrescentar, em reforço da explanada prefixação 'anti-', os vocábulos "Cristo" e "Anticristo" e "Catão" e "Anticatão" (dos dicionários), bem como "Anticristos" e "Anticatões".
Cumprimentos!
Força nas «letraturas»!

Anónimo disse...

Uma nota sobre o LASER... sendo uma sigla (e não, propriamente uma palavra inglesa) não vejo bem a necessidade do itálico.
P.S. parabens pelo blog e espero que as merecidas férias não sejam muito longas.

Helder Guégués disse...

Poucos terão a noção de que é uma sigla, até porque é uma sigla lexicalizada, daí a necessidade do itálico.