22.8.06

Corso e corço

Napoleão não é para aqui chamado

      Se não tivesse desembolsado 1,40 euros pelo jornal, talvez achasse alguma piada ao «corso» em vem de «corço». «O incêndio, que afectou uma área equivalente à cidade do Porto, atingiu uma das duas zonas de protecção total do parque, a Mata do Ramiscal, refúgio do lobo-ibérico e do corso» (Público, 20.08.2006, primeira página). Esta chamada da primeira página remete para a notícia, nas páginas 24 e 25, onde se voltou a escrever sempre «corso»: «Situado numa zona muito pouco acessível da serra do Soajo, e dada a humanização do resto do parque, o vale húmido e encaixado do rio Ramiscal tornou-se num santuário de espécies animais como o lobo-ibérico (canis lupus), o corso (capreolus capreolus), o gato-bravo (felis silvestris), nele se alimentando o único exemplar de águia-real (aquila chrysaetos) da Peneda-Gerês» («Peneda-Gerês. Balanço de uma área protegida oito dias à mercê do fogo», Abel Coentrão).
      Três notinhas: escreve-se corço (do latim cortius, em alusão à cauda curta deste animal, que, através de certos fenómenos fonéticos, alguns dos quais já aqui expliquei, deu corço); o verbo tornar-se não carece de preposição nem da contracção com o artigo (um dos erros mais difundidos hoje em dia, a que poucos escapam) e a nomenclatura científica exige que no nome composto dos seres vivos se grafe com maiúscula a primeira palavra (já aqui falei disso duas vezes, mas os jornalistas deviam estar de folga).

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