28.10.06

Tradução: «esperpento»

A esmo

Se compreendo o que pode levar um tradutor a verter o espanhol cañones para cânones, entre muitos outros exemplos reais e frequentes de que já aqui tenho falado, é em vão que me esforço para perceber porque é que vocábulos que não existem, nem sequer vagamente semelhantes, na língua de chegada, ficam tal qual nas traduções. Vejamos um caso.
«El carácter sombrío de sus composiciones (Las coristas, La visita del obispo, Los desheredados, etc.) le relacionó con la tendencia al esperpento, característica de algunos escritores de la generación del 98, y com un fondo plástico de tipo goyesco.» O tradutor, num momento de displicência absoluta, traduziu assim: «O carácter sombrio das composições (As Coristas, A Visita do Bispo, Os Deserdados, etc.) relacionou-o com a tendência para o esperpento, característica de alguns escritores da geração de 98, e com um fundo plástico de tipo goyesco.»
No contexto, esperpento, vocábulo cuja etimologia se desconhece, poderá traduzir-se por «grotesco». Segundo o Diccionario de la Real Academia Española, significa «1. m. Hecho grotesco o desatinado. 2. m. Género literario creado por Ramón del Valle-Inclán, escritor español de la generación del 98, en el que se deforma la realidad, recargando sus rasgos grotescos, sometiendo a una elaboración muy personal el lenguaje coloquial y desgarrado. 3. m. coloq. Persona o cosa notable por su fealdad, desaliño o mala traza».

Sem comentários: