A TLEBS vista por Bandeira
A TLEBS explicada aos pequeninos
Uma leitora anónima fez-me, a propósito do meu segundo post sobre a matéria, a pergunta definitiva: afinal, o que é a TLEBS? Para lá do significado da sigla, pede explicitamente.
Em primeiro lugar, deixe-me felicitá-la por escrever «a TLEBS». Numa pesquisa exaustiva que fiz na Internet, fiquei impressionado com o número de vezes que vi escrito «o TLEBS», o que não deixa de demonstrar o grau de conhecimento com que se fala da matéria. Mesmo para quem, como eu, já escreveu e defende que uma matéria desta natureza e com as repercussões que tem na língua como um todo tem ser discutida por toda a sociedade, aperceber-me que todos querem ficar na fotografia deixa-me de pé atrás. Não sou especialista, isso já todos saberão a esta hora, mas reflicto continuamente sobre os factos da língua e, pelo menos no âmbito deste blogue, só isso me interessa.
A TLEBS é uma nova nomenclatura gramatical que vem substituir outra que estava em vigor desde 1967 — sem ninguém dar por isso, dizem altaneiramente os defensores da TLEBS. O primeiro entendimento, nosso e reforçado sempre, de alguma maneira, pelos defensores, é o de que uma terminologia, nova ou velha, só interessa aos mestres do ofício: os professores. Que não é assim salta aos olhos do mais distraído dos nossos concidadãos. Imaginemos que, por decisão política, atendendo à evolução dos conhecimentos, se legislava no sentido de se utilizar uma nova — e até prescindo de acrescentar, para a comparação ser mais fiel, complexa e algo abstrusa e inconsequente — nomenclatura da anatomia. Teria isso tão-somente implicações no trabalho dos médicos e, desde logo e antes, no ensino da Medicina, ou interessava e envolvia toda a sociedade? Uma nomenclatura, qualquer que seja, é um léxico específico para falar de determinada ciência. A TLEBS é, assim, como que uma metalinguagem, isto é, um léxico para designar os fenómenos gramaticais. Se a própria portaria, de 2004, que introduz a TLEBS, afirma que esta se destina «a constituir referência para as práticas pedagógicas dos professores das disciplinas de Língua Portuguesa e de Português, bem como para a produção de documentos pelo Ministério da Educação em matéria de ensino e divulgação da língua portuguesa», como se pode afirmar que só interessa aos professores? Ex ore tuo te judico: interessa aos professores de todas as disciplinas e à própria sociedade. Aliás, só interessa aos professores na medida em que se destina (ora reflicta-se no desdobramento da sigla: Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário) aos alunos. E se se destina aos alunos*, então diz respeito a toda a sociedade.
Se o progresso do conhecimento dita que se façam ajustes na nomenclatura, não vejo porque não se devem fazer — mas sem demolir, caprichosamente, todo um edifício teórico relativamente conhecido e sólido, elo cultural entre várias gerações. Foi precisamente isto que disse num dos textos sobre a matéria aqui publicados. Com a continuação do debate, vim a perceber que alguns dos autores da nova terminologia ultrapassaram claramente os limites das suas competências específicas, o que veio a constituir mais um argumento para ser contra a TLEBS. Simplificando: se tem de ser novo, que seja o melhor, feito com o contributo dos melhores.
* Embora a Prof.ª Maria Helena Mira Mateus, uma das autoras da TLEBS, tenha afirmado o contrário na entrevista que concedeu a Luís Caetano, no programa Um Certo Olhar (Antena 2, 3.12.2006, ouvir aqui): «Há uma terminologia linguística que é, no fundo, uma nomenclatura gramatical, tanto antiga como moderna pode ter esse nome. A gramática tem aspectos que são nomeados com termos. Havia uma nomenclatura gramatical de 1967 que não tinha sido nunca actualizada mesmo tendo havido alterações na concepção da gramática e na explicação do funcionamento da língua. Essa falta de actualização, e o desconhecimento também que muitas vezes havia da mesma, da terminologia que era suposta ser conhecida por todas as pessoas, por todos os professores, o facto de não ser conhecida e o facto de não ser actualizada fazia com que muitos professores utilizassem termos diversos, conforme a época em que tinham cursado a faculdade, tinham estado na faculdade, e isso não era bom para o ensino. Sendo assim, o Ministério pensou pedir a especialistas das várias áreas que dessem uma informação sobre os termos das suas respectivas áreas de acordo com o que se sabia hoje, e o que se sabe hoje, sobre o funcionamento da língua nessas várias áreas. […] Eu penso que os especialistas não tiveram tão presente quanto seria necessário a utilização de uma terminologia no ensino. Porque para as pessoas que falam, enfim, no caso da Linguística, mas podia ser Física, podia ser Matemática, podia ser qualquer ciência, mas no caso da Linguística, os termos que integram essa terminologia não são necessariamente para serem obrigatoriamente aprendidos pelos alunos. E isso está dito em todos os lados. Portanto, embora haja até termos com os quais eu não concorde muito, mas isso, enfim, está a ser revisto na revisão que se está a fazer, para além disso não é necessário que os alunos conheçam e nomeiem aquilo que lhes é explicado da gramática do português com os termos que fazem parte dessa terminologia.» (Destaques meus.)
A TLEBS explicada aos pequeninos
Uma leitora anónima fez-me, a propósito do meu segundo post sobre a matéria, a pergunta definitiva: afinal, o que é a TLEBS? Para lá do significado da sigla, pede explicitamente.
Em primeiro lugar, deixe-me felicitá-la por escrever «a TLEBS». Numa pesquisa exaustiva que fiz na Internet, fiquei impressionado com o número de vezes que vi escrito «o TLEBS», o que não deixa de demonstrar o grau de conhecimento com que se fala da matéria. Mesmo para quem, como eu, já escreveu e defende que uma matéria desta natureza e com as repercussões que tem na língua como um todo tem ser discutida por toda a sociedade, aperceber-me que todos querem ficar na fotografia deixa-me de pé atrás. Não sou especialista, isso já todos saberão a esta hora, mas reflicto continuamente sobre os factos da língua e, pelo menos no âmbito deste blogue, só isso me interessa.
A TLEBS é uma nova nomenclatura gramatical que vem substituir outra que estava em vigor desde 1967 — sem ninguém dar por isso, dizem altaneiramente os defensores da TLEBS. O primeiro entendimento, nosso e reforçado sempre, de alguma maneira, pelos defensores, é o de que uma terminologia, nova ou velha, só interessa aos mestres do ofício: os professores. Que não é assim salta aos olhos do mais distraído dos nossos concidadãos. Imaginemos que, por decisão política, atendendo à evolução dos conhecimentos, se legislava no sentido de se utilizar uma nova — e até prescindo de acrescentar, para a comparação ser mais fiel, complexa e algo abstrusa e inconsequente — nomenclatura da anatomia. Teria isso tão-somente implicações no trabalho dos médicos e, desde logo e antes, no ensino da Medicina, ou interessava e envolvia toda a sociedade? Uma nomenclatura, qualquer que seja, é um léxico específico para falar de determinada ciência. A TLEBS é, assim, como que uma metalinguagem, isto é, um léxico para designar os fenómenos gramaticais. Se a própria portaria, de 2004, que introduz a TLEBS, afirma que esta se destina «a constituir referência para as práticas pedagógicas dos professores das disciplinas de Língua Portuguesa e de Português, bem como para a produção de documentos pelo Ministério da Educação em matéria de ensino e divulgação da língua portuguesa», como se pode afirmar que só interessa aos professores? Ex ore tuo te judico: interessa aos professores de todas as disciplinas e à própria sociedade. Aliás, só interessa aos professores na medida em que se destina (ora reflicta-se no desdobramento da sigla: Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário) aos alunos. E se se destina aos alunos*, então diz respeito a toda a sociedade.
Se o progresso do conhecimento dita que se façam ajustes na nomenclatura, não vejo porque não se devem fazer — mas sem demolir, caprichosamente, todo um edifício teórico relativamente conhecido e sólido, elo cultural entre várias gerações. Foi precisamente isto que disse num dos textos sobre a matéria aqui publicados. Com a continuação do debate, vim a perceber que alguns dos autores da nova terminologia ultrapassaram claramente os limites das suas competências específicas, o que veio a constituir mais um argumento para ser contra a TLEBS. Simplificando: se tem de ser novo, que seja o melhor, feito com o contributo dos melhores.
* Embora a Prof.ª Maria Helena Mira Mateus, uma das autoras da TLEBS, tenha afirmado o contrário na entrevista que concedeu a Luís Caetano, no programa Um Certo Olhar (Antena 2, 3.12.2006, ouvir aqui): «Há uma terminologia linguística que é, no fundo, uma nomenclatura gramatical, tanto antiga como moderna pode ter esse nome. A gramática tem aspectos que são nomeados com termos. Havia uma nomenclatura gramatical de 1967 que não tinha sido nunca actualizada mesmo tendo havido alterações na concepção da gramática e na explicação do funcionamento da língua. Essa falta de actualização, e o desconhecimento também que muitas vezes havia da mesma, da terminologia que era suposta ser conhecida por todas as pessoas, por todos os professores, o facto de não ser conhecida e o facto de não ser actualizada fazia com que muitos professores utilizassem termos diversos, conforme a época em que tinham cursado a faculdade, tinham estado na faculdade, e isso não era bom para o ensino. Sendo assim, o Ministério pensou pedir a especialistas das várias áreas que dessem uma informação sobre os termos das suas respectivas áreas de acordo com o que se sabia hoje, e o que se sabe hoje, sobre o funcionamento da língua nessas várias áreas. […] Eu penso que os especialistas não tiveram tão presente quanto seria necessário a utilização de uma terminologia no ensino. Porque para as pessoas que falam, enfim, no caso da Linguística, mas podia ser Física, podia ser Matemática, podia ser qualquer ciência, mas no caso da Linguística, os termos que integram essa terminologia não são necessariamente para serem obrigatoriamente aprendidos pelos alunos. E isso está dito em todos os lados. Portanto, embora haja até termos com os quais eu não concorde muito, mas isso, enfim, está a ser revisto na revisão que se está a fazer, para além disso não é necessário que os alunos conheçam e nomeiem aquilo que lhes é explicado da gramática do português com os termos que fazem parte dessa terminologia.» (Destaques meus.)
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