18.2.07

Machreq ou Machereque?

Eis a questão



      Cara Luísa Pinto: eu nunca propus que se deviam traduzir os topónimos estrangeiros. Como todos os leitores, tem o direito de me ler, não de me tresler. O caso de Machreq é, providencialmente, muito simples. Provavelmente leu-o numa obra francesa. Sim, porque se tivesse sido numa inglesa, teria lido Mashreq ou Mashriq ou Mashrek. Ora, isso só significa que as várias línguas têm de transliterar para o alfabeto latino o topónimo árabe, já que desconhecemos esta língua. E para esse fim, podemos recorrer à norma internacional ISO 233. Se eu escrevesse a palavra árabe مشرق, a leitora não saberia se estava a insultá-la, se, por exemplo, a dar-lhe uma informação, não é? A verdade é que acabei de escrever o topónimo em causa. O topónimo significa «Levante», por oposição ao Magrebe (em árabe, المغرب), «Poente», e abrange, pelo menos numa das acepções, o Oriente árabe: Iraque, Síria, Líbano, Palestina, Egipto e parte da Líbia.
      No fundo, a verdadeira questão é se aceitamos as transliterações de outras línguas ou se procedemos à transliteração para a nossa língua, e não, evidentemente, se respeitamos o endotopónimo*. Já tenho tido oportunidade de ler, em alguns textos oficiais, em língua portuguesa, da União Europeia o topónimo transliterado como «Machereque». Prática que devemos seguir — para nos entendermos e mais tarde podermos afirmar que temos uma tradição.

* Sobre o conceito de endotopónimos e exotopónimos, ler o excelente artigo «Traducir (o no) los topónimos», de Miquel Vidal, no n.º 100 de Punto y Coma, pp. 57-62.

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