Abortos linguísticos
Em conversa com uma fisioterapeuta, desta vez não a propósito de pólipos mas de partos, lá tive de ouvir mais um abastardamento da língua: /distócia/. Quem sabe se ela não escreve mesmo assim, com acento agudo? Já vi. Isto faz-me lembrar uma pergunta que certa vez uma consulente fez ao Ciberdúvidas: «Lista de palavras falsas esdrúxulas.» Isto é que é doçura… A merecer a resposta que teve: «Tal lista depende da ignorância de cada um!» O vocábulo «distocia» é grave; logo, pronuncia-se /distocia/. (Já aqui falei, também a propósito da linguagem médica, dos compostos em -emia, que são sempre graves.) Vem do grego, sim, como o seu antónimo, «eutocia», mas através, provavelmente, do francês, e nesta língua não há proparoxítonos. Claro que há excepções, pelo que dou a palavra a Vasco Botelho de Amaral (sempre tão referido e sempre tão pouco divulgado): «Cabe notar [o autor di-lo a propósito do vocábulo «Oceania»] que em português houve sempre hesitações na acentuação de palavras em ia, principalmente quando se trate de sufixo.
A terminação -ia em grego é tónica; e no latim, átona. E aconteceu até que umas palavras se fixaram como graves e outras como esdrúxulas. Por exemplo, temos em português: filosofia, homilia; mas, por outro lado, ficou-nos história.
Isto não se dá só com os nomes comuns. Por um lado, diz-se Hungria, Normandia, Lombardia, Berbéria, Alexandria, Antioquia, Turquia, Samaria. Por outro, temos Áustria, Itália, Suécia, Somália, Dalmácia, Capadócia, Fenícia, Ásia, etc.» (Subtilezas, Máculas e Dificuldades da Língua Portuguesa, edição da Revista de Portugal, Lisboa, 1946, pp. 77-8).
Em conversa com uma fisioterapeuta, desta vez não a propósito de pólipos mas de partos, lá tive de ouvir mais um abastardamento da língua: /distócia/. Quem sabe se ela não escreve mesmo assim, com acento agudo? Já vi. Isto faz-me lembrar uma pergunta que certa vez uma consulente fez ao Ciberdúvidas: «Lista de palavras falsas esdrúxulas.» Isto é que é doçura… A merecer a resposta que teve: «Tal lista depende da ignorância de cada um!» O vocábulo «distocia» é grave; logo, pronuncia-se /distocia/. (Já aqui falei, também a propósito da linguagem médica, dos compostos em -emia, que são sempre graves.) Vem do grego, sim, como o seu antónimo, «eutocia», mas através, provavelmente, do francês, e nesta língua não há proparoxítonos. Claro que há excepções, pelo que dou a palavra a Vasco Botelho de Amaral (sempre tão referido e sempre tão pouco divulgado): «Cabe notar [o autor di-lo a propósito do vocábulo «Oceania»] que em português houve sempre hesitações na acentuação de palavras em ia, principalmente quando se trate de sufixo.
A terminação -ia em grego é tónica; e no latim, átona. E aconteceu até que umas palavras se fixaram como graves e outras como esdrúxulas. Por exemplo, temos em português: filosofia, homilia; mas, por outro lado, ficou-nos história.
Isto não se dá só com os nomes comuns. Por um lado, diz-se Hungria, Normandia, Lombardia, Berbéria, Alexandria, Antioquia, Turquia, Samaria. Por outro, temos Áustria, Itália, Suécia, Somália, Dalmácia, Capadócia, Fenícia, Ásia, etc.» (Subtilezas, Máculas e Dificuldades da Língua Portuguesa, edição da Revista de Portugal, Lisboa, 1946, pp. 77-8).
9 comentários:
Eu sempre ouvi dizer "oceania" mas sempre vi escrito "oceânia".
Vou falar desse topónimo em especial brevemente. Aproveitarei e divulgarei também a opinião de Vasco Botelho de Amaral.
Eu sempre pronunciei Antióquia. Mesmo estando errado, soa mais bonito do que Antioquía. Por isso, acho que manterei o (mau) hábito.
Sou aluno de medicina... sempre li, ouvi e disse "distócia" (ex. Distócia de ombros)!
Está a tempo de corrigir.
Nem mais...! Na minha oral de ginecologia e obstetrícia, esta semana, assim pronunciarei!
Ainda sobre um tema semelhante, não consigo deixar de te contar as coisas que ouço no meu curso!
Quando entrei no curso de medicina dizia: estádio, quimioterapia (imunoterapia, etc), leucemia...
agora só ouço:
estadio (não se existe diferença se quer, já me tentaram explicar que existe!), QUIMIOTERÁPIA [IMUNOTERÁPIA, etc-TERÁPIA(sendo esta a que mais me irrita)] e leucémia...
mais um último assunto:
qual o género da palavra SÍNDROME?
Achas que se diz sindroma...? se sim, qual o género?
Onde é essa faculdade? É deveras lamentável que desconheçam a tal ponto a língua. «Síndrome» é do género feminino. Já sei que na comunidade médica preferem (!) «o» síndrome. Está a tempo, repito, de se salvar de falar desse modo. Tem aqui sempre um porto de abrigo.
Pois, eu, também, sempre escrevi "oceânia" (que sei que está correcto", mas como se prenuncia?
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