1.2.07

Tradução do espanhol

Benfazer mas mal obrar

Há tempos, chegou-me esta frase: «El Osiris, Señor de los Muertos, el Ounofer o Bienhechor, reina en un limbo pálido, gris, debajo del suelo en el Oeste, hacia el Poniente.» O tradutor português entendeu vertê-la assim, para vergonha de todos nós: «Osíris, Senhor dos mortos, Uennefer ou Bienhechor, reina num limbo pálido, cinzento, debaixo do solo no Oeste até Poente.» Para quem tem somente umas tinturas da matéria, claro que «Bienhechor» é tão estrambótico como «Uennefer» — e vá de deixar ir assim. Pode ser que o leitor não perceba. Com sorte, talvez o revisor repare. Não, não, estas últimas reflexões não as atribuo à consciência do tradutor. Na verdade, trata-se tão-só de ignorância. Sim, temos mesmo o vocábulo «hechor» em português, não sabia, caro leitor? Só falta encontrar no mesmo léxico o «bien» e macheá-los. Sim, «hechor» está — premonitoriamente, diria eu — no glossário sobre equinos e asininos. É o burro que se reserva para fecundar éguas, destinadas à criação de burras. Hechor de hechar, lançar o burro às éguas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há-de ter sido lapso. De uma égua cruzada com burro não pode vir burra, só muares ou mus: mulas ou machos.

André Pinto disse...

Numa tradução de "A Colmeia" (Cela), creio que da D. Quixote, diz-se, a páginas tantas, que certa personagem foi morta "à frente das Asturias". O correcto seria "morreu NA frente das Asturias"; uma referência militar e não um lugar geográfico. Erros destes são sistemáticos nessa tradução e, ao fim de uns quantos, a leitura enche-se de ridículo. Quando não entende o contexto, nem a terminologia, o tradutor decide "aportuguesar" os termos, mantendo a sua forma.

É o que dá achar que Castelhano é Português deformado e que qualquer um serve para a sua tradução.