21.2.07

Travessão

Acordem, senhores

Apesar de os meios informáticos, e em especial os processadores de texto, estarem à nossa disposição há já algum tempo (eu, e não sou o melhor exemplo, uso computador desde 1988), ainda assim muitos tradutores não sabem como encontrar (e alguns, usar) o travessão. A lei do menor esforço impele-os, naturalmente, a usarem o que vêem no teclado: o hífen ou, pior ainda, a sublinha, na mesma tecla. Alguns, não vá o paginador ignorar, pespegam com dois hífenes seguidos. Demonstram assim não apenas ignorância, ah pois, mas também falta de respeito por quem vai rever ou paginar as obras que eles traduzem — pois alguém terá de fazer o trabalho que lhes incumbia.
O travessão, no aplicativo Word, o mais difundido, obtém-se clicando em «Inserir», «Símbolo» e «Símbolos». Para não haver dúvidas, na terceira linha da caixa, à esquerda, aparece o nome inglês do símbolo seleccionado: «EM DASH». Como se sabe, o hífen é mais pequeno e nunca há qualquer espaço entre ele e as palavras que liga; o travessão, por sua vez, requer o uso de espaço antes e depois. Ainda existe, e não terá escapado aos revisores que me lêem, pois usei-a no último post, a meia-risca, que tem um tamanho intermédio, usada com números, mormente datas e números de páginas: 1998―2006; pp. 20―35. Muito usada pelos anglo-saxónicos, com a designação de en dash*, por cá vai-se vendo (e viu-se no passado, pois na obra que ontem citei foi a meia-risca que o autor usou) em algumas obras, o que considero boa prática.


* «The en dash is slightly longer than the hyphen but not as long as the em dash. (It is, in fact, the width of a typesetter’s letter “N,” whereas the em dash is the width of the letter “M”—thus their names.) The en dash means, quite simply, “through.” We use it most commonly to indicate inclusive dates and numbers: July 9―August 17; pp. 37―59.» (Ver também Editorial Style Manual of UA)

15 comentários:

cj disse...

Fazendo aqui um "off-topic": no recente teste do campeonato nacional de língua portuguesa, surge uma questão que, por exclusão de partes, só se poderá considerar certa (a que apresenta erro ortográfico) a resposta "cor-de-vinho".
Nas pesquisas que efectuei deparei-me com uma aceitação generalizada da utilização de, por exemplo, cor-de-rosa e cor de rosa, ou cor-de-vinho e cor de vinho como estando ambas correctas.
Perante essa questão, em que só esta resposta poderá estar errada, já que as outras hipóteses estão de certeza correctas, haverá então um lapso por parte de quem elaborou esse teste?

Helder Guégués disse...

Estarão mesmo todas bem? E se na mente dos autores do teste sempre esteve que não valem verbos conjugados, já tinha pensado? Nesse caso, lá estará «premeio» mal…

Anónimo disse...

pois, mas da maneira como a questão está formulada nada indica isso.
palavras são palavras.

Helder Guégués disse...

Pode haver aqui restrição mental. Ou a pergunta estar mal formulada. Se não morrermos de ansiedade até lá, dentro de dois dias sabê-lo-emos.

Ricardo disse...

Obrigado pela dica quanto aos "traços".

cj disse...

afinal era mesmo cor-de-vinho...

Helder Guégués disse...

Era mesmo. Agora só resta esperar que não alterem, como já fizeram desde o sábado de manhã, a resposta correcta…

Helder Guégués disse...

Curiosamente, mesmo hoje, segunda-feira, é a única resposta que, estando embora corrigida, não tem o tique… Além disso, ainda estou para ver o que diz o «Grande Dicionário da Língua Portuguesa», dado como obra de referência no artigo 12.º, n.º 1, do regulamento. Certo, certo é que a ortografia oficial manda escrever sem hífen, mas não confundamos as coisas.

Helder Guégués disse...

Afinal, caro CJ, esqueceu-se do regulamento do Campeonato Nacional da Língua Portuguesa. Nada de grave: a própria Comissão Técnico-Científica também se esqueceu do artigo 12.º, n.º 1, que diz textualmente: «A obra de referência para avaliar a exactidão da grafia das palavras é o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, editado em Maio de 2004 pela Porto Editora.» Sim, palavras são palavras, e regras são regras.

anama disse...

Peço desculpa por entrar a meio da conversa e por mudar de assunto.
Sou paginadora e, portanto, sei do que o Helder fala quando diz que os tradutores, muitas vezes acham que conseguem ajudar a paginar fazendo dois hífens seguidos, na verdade não ajudam.
Queria dizer que nunca percebi, num livro, por exemplo um romance, qual é a regra de utilização dos travessões normais ou meia-risca. No caso da translineação, existem regras, ou não. Se alguém me puder ajudar a tirar estas dúvidas...

Helder Guégués disse...

Anama
Dentro de pouco abordarei novamente este tema. Se preferir, contacte-me por correio electrónico.

ESQUEMA DE AULA disse...

Olhem, entrei nessa quase dois anos depois, por ser este tema de questões raras de ouvir em uma sala de bilhar – o o travessão. Quanto ao hífen eu uso um técnica assim; escrevo uma palavra depois um espaço depois um hífen e novo espaço o hífen transforma-se em travessão, ou seja, ele estica.
Porém, há outra questão: isso tem regra? A pontuação vem depois do travessão ou antes? Euclides da Cunha usa a vírgula depois [... ração – um litro de farinha para sete praças e um boi para um batalhão –, reto do comboio...] Os Sertões, S.P, Nova Cultural 2003, pg. 279; mas, em Camões é usado antes: [ – Não passes, caminhante! – Quem me chama?} Sonetos, Martin Claret 1999 pg. 170 – Soneto 156.
Juvenal Payayá

Helder Guégués disse...

Caro Juvenal
Não é preciso recuar a Camões para encontrar a pontuação antes do travessão: já o século XX ia a meio e ainda se fazia assim em Portugal. Agora faz-se o contrário.

João Silva disse...

Helder, gostei do assunto envolvendo hifen e travessão, pois estava pesquisando na internet exatamente para tirar dúvidas sobre se após o hifen se colocava espaço, e você realmente respondei a altura. Um abraço

Unknown disse...

Nunca tinha pensado nisso. E agora, pesquisando sobre espaço entre travessã e sigla, fiquei feliz ao encontrar esse explicativo.
Mas uma coisa me inquietou: o hífen não seria "menor" ao invés de "mais pequeno"?