30.3.07

Colocação do pronome átono

Isto me parece

      O leitor J (e não seria melhor «J.»?) pede a minha opinião acerca da colocação do pronome átono na seguinte frase: «Ficou sentado, para que ela não fosse levantar-se.» Se se tratasse de um infinitivo solto, como defende a Nova Gramática do Português Contemporâneo, mesmo quando modificado por negação, como é o caso, seria lícita a próclise e a ênclise, «embora haja acentuada tendência para esta última colocação pronominal» (p. 312 da 3.ª edição, 1986). Tratando-se de uma locução verbal, a mesma gramática defende a ênclise ao infinitivo e ao gerúndio, e a próclise ao verbo auxiliar «quando ocorrem as condições exigidas para a anteposição do pronome a um só verbo» (p. 315). Ora, no caso, estas condições não impõem taxativamente a anteposição do pronome, pelo que é indiferente usar a próclise ou a ênclise. Assim, podemos escrever: «Ficou sentado, para que ela não se fosse levantar»; «Ficou sentado, para que ela se não fosse levantar»; «Ficou sentado, para que ela não fosse levantar-se».

4 comentários:

Anónimo disse...

Esta questão tem a ver, sem dúvida, com a mais recente polémica no CNLP. No segundo texto do 3.º teste, aparece a frase "[...] quis pôr a garrafa bem arrolhada, não fosse entornar-se." Inicialmente, a CTC não considerou erro em "não fosse entornar-se"; depois, perante algumas reclamações, já considerou erro, dizendo que devia ser substituída por "não se fosse entornar". E alterou a resposta inicial, de 21 erros, para 22 erros. Verdadeiro motivo: eram menos os concorrentes que tinham respondido 22 erros do que aqueles que tinham respondido 21 erros, e o que interessa é eliminar o máximo possível. É a segunda figura triste que a CTC faz neste 3.º teste, depois de ter considerado incorrecta, na pergunta 15, a frase "Ele é distraído, se não parvo", alegando que o correcto seria "senão" em vez de "se não". Não haverá maneira de lutar contra tamanha incompetência?

Manuel Fernando Ferreira

Helder Guégués disse...

Uma forma, passiva, é certo, de lutar contra tamanha incompetência é ignorar o concurso e tudo quanto lhe diz respeito — como eu fiz. A prová-lo, está o facto de nem sequer saber que a pergunta do leitor se referia ao concurso.

j disse...

Agradeço a sua opinião.
Efectivamente, a minha questão relaciona-se com o concurso. Porém, apenas a levantei para poder comparar a minha opinião com a de alguém cujas opiniões muito prezo.
Acerca do concurso, tenho tanto ou mais desprezo do que o que o amigo Helder manifesta pela forma atabalhoada, infeliz, ou até mesmo incompetente como a dita CPC faz as perguntas e analisa as respostas.
PS.
"j" e não "j." apenas por uma questão de simplificação...

Anónimo disse...

Caro Hélder.
Sei que, relativamente ao CNLP, optou pela atitude da indiferença. No entanto, creio que, se não forem tomadas atitudes mais activas, o Campeonato continuará a agredir impunemente a Língua Portuguesa. O CNLP 2007 já acabou, eu tive a oportunidade de manifestar o meu repúdio pela forma como decorreu indo à Grande Final e boicotando a minha participação em directo frente às câmaras, mas mesmo assim creio que há que fazer mais. Com esse objectivo, foi elaborada uma carta de protesto que será enviada à Organização do Campeonato e para a qual estão a ser recolhidas assinaturas. A carta está disponível em www.dem.uminho.pt/people/mlima
Caso decida rever a sua posição relativamente a este assunto, por favor leia a carta e subscreva-a se concordar com o seu conteúdo.