O trolha atómico
Tem de se ter sempre muito cuidado no uso dos sinónimos e no respeito de termos e expressões consagrados. Vejamos a tradução de um texto francês cujo título era «La fission de l’uranium». «En 1938, les Allemands Otto Hahn et Fritz Strassmann ont observe qu’en bombardant certains noyaux d’uranium (l’uranium 235) par des neutrons, on pouvait les briser: il sont ainsi découvert le mécanisme de fission de l’uranium.» Parecia simples, mas vejamos como se portou o tradutor: «Em 1938, os alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann observaram que ao bombardearem alguns núcleos de urânio (o urânio 235) com neutrões, eles podiam ser quebrados: também descobriram o mecanismo de fissuração do urânio. Esta fissuração de núcleos de urânio liberta por sua vez neutrões, que provocam outras fissurações, etc., libertando grandes quantidades de energia. É a famosa reacção em cadeia que foi posta em prática nos reactores.» Escusado seria dizer que o título ficou «A fissuração do urânio». Umas linhas mais à frente, a frase «En effet, le seul isotope fissile est l’uranium 235» teve o tratamento que merecia: «Com efeito, o único isótopo fissurável é o urânio 235.» Quem é que, nos tempos que correm, nunca ouviu falar da fissão de um átomo pesado? É o habitual: quando devem fugir do original, procurando outro termo, especialmente nos casos de falsos cognatos e não só, não o fazem; quando devem manter-se fiéis à literalidade do original, fazem desvios desastrosos. De facto, fissuração, quem o pode negar?, também existe. Mas estaremos, ao usá-lo, noutro âmbito. Por exemplo, se falarmos da «fissuração das alvenarias», estaremos a usar com propriedade o termo. Também há a fissuração do ânus, mas basta de coisas tristes e dolorosas. Do mal, o menos: o tradutor poderia ter escrito «a ficção do urânio», o que me faz lembrar aquele jovem ignorante que dizia que tinha ido fazer as «provas de fricção».
Tem de se ter sempre muito cuidado no uso dos sinónimos e no respeito de termos e expressões consagrados. Vejamos a tradução de um texto francês cujo título era «La fission de l’uranium». «En 1938, les Allemands Otto Hahn et Fritz Strassmann ont observe qu’en bombardant certains noyaux d’uranium (l’uranium 235) par des neutrons, on pouvait les briser: il sont ainsi découvert le mécanisme de fission de l’uranium.» Parecia simples, mas vejamos como se portou o tradutor: «Em 1938, os alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann observaram que ao bombardearem alguns núcleos de urânio (o urânio 235) com neutrões, eles podiam ser quebrados: também descobriram o mecanismo de fissuração do urânio. Esta fissuração de núcleos de urânio liberta por sua vez neutrões, que provocam outras fissurações, etc., libertando grandes quantidades de energia. É a famosa reacção em cadeia que foi posta em prática nos reactores.» Escusado seria dizer que o título ficou «A fissuração do urânio». Umas linhas mais à frente, a frase «En effet, le seul isotope fissile est l’uranium 235» teve o tratamento que merecia: «Com efeito, o único isótopo fissurável é o urânio 235.» Quem é que, nos tempos que correm, nunca ouviu falar da fissão de um átomo pesado? É o habitual: quando devem fugir do original, procurando outro termo, especialmente nos casos de falsos cognatos e não só, não o fazem; quando devem manter-se fiéis à literalidade do original, fazem desvios desastrosos. De facto, fissuração, quem o pode negar?, também existe. Mas estaremos, ao usá-lo, noutro âmbito. Por exemplo, se falarmos da «fissuração das alvenarias», estaremos a usar com propriedade o termo. Também há a fissuração do ânus, mas basta de coisas tristes e dolorosas. Do mal, o menos: o tradutor poderia ter escrito «a ficção do urânio», o que me faz lembrar aquele jovem ignorante que dizia que tinha ido fazer as «provas de fricção».
1 comentário:
Caro Amigo,
só mesmo esta para me fazer rir a bandeiras despregadas, logo hoje...
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