Imagem: http://paraferroviario.7.forumer.com/
Maria Fumaça
A leitora Teresa Simões quer saber que nome tinha o vagão que, nos comboios a vapor, levava a lenha. Não apenas a lenha, cara leitora, mas também água, carvão mineral ou óleo. O nome é um anglicismo: tênder. Por vezes, o tênder era incorporado à própria locomotiva, como se fosse um anexo. É o exemplo mostrado na imagem. E já sabe, cara leitora: ver passar comboios só é triste para os que não praticam trainwatching.
Aproveito para citar um trecho de um texto, «Encantos e Desencantos de um Estagiário», publicado na revista Ingenium, n.º 84, da autoria do engenheiro mecânico J. M. Sardinha, em que se refere o tênder: «O programa do estágio levou-me uma vez ao ramal de Mora, hoje já desactivado. O comboio, que era o único que por aí passava diariamente, era constituído por uma velha locomotiva, um tender [sic], um vagão e uma carruagem de terceira classe onde viajavam quatro passageiros. O calor era abrasador. Seriam talvez três horas da tarde, rodávamos em marcha moderada através de um campo onde só amarelecia o restolho que sobrara da ceifa, quando o maquinista me disse: “Há aqui perto um poço que tem água muito boa e muito fresca.” Minutos depois, com um chiar de freios e tilintar de ferros, o pequeno comboio imobilizou-se no meio do descampado onde não se descortinava uma casa nem a sombra de um chaparro. Toda a gente desceu: o maquinista, o fogueiro, o estagiário, o condutor e os quatro encalorados passageiros. Ali, mesmo ao lado da linha, havia um poço a que não faltava a indispensável roldana, um balde e a respectiva corda. Tranquilamente, sem pressas, passando o balde de mão em mão, refrescámo-nos regaladamente com aquela água bendita cuja frescura nos retemperava as entranhas ressequidas pela feroz canícula estival. Ao lado, o comboio esperava, e fiquei até com a ideia de que a locomotiva, cansada e arquejante, nos olhava com ar de censura, rosnando talvez qualquer coisa como “e eu não tenho direito a um golo dessa água refrescante?”.»
Maria Fumaça
A leitora Teresa Simões quer saber que nome tinha o vagão que, nos comboios a vapor, levava a lenha. Não apenas a lenha, cara leitora, mas também água, carvão mineral ou óleo. O nome é um anglicismo: tênder. Por vezes, o tênder era incorporado à própria locomotiva, como se fosse um anexo. É o exemplo mostrado na imagem. E já sabe, cara leitora: ver passar comboios só é triste para os que não praticam trainwatching.
Aproveito para citar um trecho de um texto, «Encantos e Desencantos de um Estagiário», publicado na revista Ingenium, n.º 84, da autoria do engenheiro mecânico J. M. Sardinha, em que se refere o tênder: «O programa do estágio levou-me uma vez ao ramal de Mora, hoje já desactivado. O comboio, que era o único que por aí passava diariamente, era constituído por uma velha locomotiva, um tender [sic], um vagão e uma carruagem de terceira classe onde viajavam quatro passageiros. O calor era abrasador. Seriam talvez três horas da tarde, rodávamos em marcha moderada através de um campo onde só amarelecia o restolho que sobrara da ceifa, quando o maquinista me disse: “Há aqui perto um poço que tem água muito boa e muito fresca.” Minutos depois, com um chiar de freios e tilintar de ferros, o pequeno comboio imobilizou-se no meio do descampado onde não se descortinava uma casa nem a sombra de um chaparro. Toda a gente desceu: o maquinista, o fogueiro, o estagiário, o condutor e os quatro encalorados passageiros. Ali, mesmo ao lado da linha, havia um poço a que não faltava a indispensável roldana, um balde e a respectiva corda. Tranquilamente, sem pressas, passando o balde de mão em mão, refrescámo-nos regaladamente com aquela água bendita cuja frescura nos retemperava as entranhas ressequidas pela feroz canícula estival. Ao lado, o comboio esperava, e fiquei até com a ideia de que a locomotiva, cansada e arquejante, nos olhava com ar de censura, rosnando talvez qualquer coisa como “e eu não tenho direito a um golo dessa água refrescante?”.»
1 comentário:
Caríssimo amigo,
Até hoje no Brasil a tal locomotiva é conhecida pelo nome: Maria Fumaça.
Obrigada
Francisca Simões
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