Boa ideia, mas…
Finalmente, alguém propõe um neologismo sério — cibergrama — para designar essa palavra omnipresente nas nossas vidas hodiernas: email. Na verdade, e só o digo porque me apetece, refiro-o porque há tempos uma leitora reincidente deste blogue me desancou por eu ter usado a nefanda palavra. Como revisor, proponho sempre «correio electrónico», excepto se o uso da editora ou publicação for outro. Pessoalmente, prefiro, por ser mais curto, e referindo-me ao conteúdo, «mensagem». Quem propôs o neologismo, como se pode ver no Ciberdúvidas, foi o tradutor Armando Gonçalves: «Se a uma mensagem escrita enviada por vai aérea se chama aerograma (quem não se lembra da sua grande utilização na altura da guerra colonial?), se a uma mensagem escrita enviada por via telegráfica se chama telegrama, não se poderia chamar «cibergrama» a uma mensagem escrita enviada pelo ciberespaço? Por que razão não somos capazes de sair do e-mail? Onde param os terminólogos institucionais da língua portuguesa? Onde anda a criatividade que mantém as línguas vivas?» Insisto: é um neologismo sério o que se propõe. Mas seria acolhido pelos falantes? Também Aquilino Ribeiro queria que se substituísse foot-ball por «pedibola», e veja-se o que aconteceu. Logo em 1946, escrevia Vasco Botelho de Amaral na obra Subtilezas, Máculas e Dificuldades da Língua Portuguesa: «Por exemplo, ficaria cómico transformar o football em bolapé ou pedibola ou furtabolas? Hoje, claro que sim. O remédio, hoje, só está na adaptação futebol.»
Finalmente, alguém propõe um neologismo sério — cibergrama — para designar essa palavra omnipresente nas nossas vidas hodiernas: email. Na verdade, e só o digo porque me apetece, refiro-o porque há tempos uma leitora reincidente deste blogue me desancou por eu ter usado a nefanda palavra. Como revisor, proponho sempre «correio electrónico», excepto se o uso da editora ou publicação for outro. Pessoalmente, prefiro, por ser mais curto, e referindo-me ao conteúdo, «mensagem». Quem propôs o neologismo, como se pode ver no Ciberdúvidas, foi o tradutor Armando Gonçalves: «Se a uma mensagem escrita enviada por vai aérea se chama aerograma (quem não se lembra da sua grande utilização na altura da guerra colonial?), se a uma mensagem escrita enviada por via telegráfica se chama telegrama, não se poderia chamar «cibergrama» a uma mensagem escrita enviada pelo ciberespaço? Por que razão não somos capazes de sair do e-mail? Onde param os terminólogos institucionais da língua portuguesa? Onde anda a criatividade que mantém as línguas vivas?» Insisto: é um neologismo sério o que se propõe. Mas seria acolhido pelos falantes? Também Aquilino Ribeiro queria que se substituísse foot-ball por «pedibola», e veja-se o que aconteceu. Logo em 1946, escrevia Vasco Botelho de Amaral na obra Subtilezas, Máculas e Dificuldades da Língua Portuguesa: «Por exemplo, ficaria cómico transformar o football em bolapé ou pedibola ou furtabolas? Hoje, claro que sim. O remédio, hoje, só está na adaptação futebol.»
3 comentários:
Duvido que algum dia o termo "cibergrama" pegue. Tem demasiadas sílabas para se tornar popular, e na língua oral a tendência é sempre para a simplificação. Não vejo ninguém a dizer "recebeste o cibergrama que te enviei?" em vez de "recebeste o mail que...". É possível que com o tempo a palavra "carta" acabe por se aplicar indistintamente ao correio físico e ao electrónico.
Talvez nunca seja sequer aportuguesado (e como?), quanto mais substituir-se-lhe um neologismo. Mas é pena. Quanto a ter demasiadas sílabas, não concordo: embora tenhamos muitos vocábulos com muitas sílabas, não fazemos um esforço intencional para os evitar, ou fazemos?
Receio bem que sim, e nem sequer de forma intencional, apenas naturalmente, por preguiça. Em qualquer praia, em qualquer jardim público, é muito comum ouvir-se coisas do género: "Anda práqui, Manel, não vês caí tá muito sol?". E se esta mutilação silábica acontece com palavras curtas, o que não acontecerá com as mais grandotas. Mas as línguas, suponho, só evoluem pela integração do erro. Até que o erro deixa de ser erro e passa a ser norma. É provável, por exemplo, que daqui a cem anos a grafia "correcta" de "feminino" seja "femenino", uma vez que a tendência geral (pelo menos no Norte, mas creio que um pouco por todo o país) é pronunciar assim a palavra. Não sei. Quem viver, verá.
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