12.5.07

Incongruências gráficas; o trema

Tremuras

«“Está fora de questão retirar a minha candidatura”, garantiu ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros turco e candidato do partido islamita (AKP, no poder) às presidenciais, Adullah Gül, horas antes de um protesto que reuniu um milhão de pessoas em Istambul» («Gül mantém candidatura apesar de manifestação em Istambul», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 30.4.2007, p. 30). «O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Abdullah Gul, retirou ontem a sua candidatura à presidência da República» («Ministro islamita retira candidatura presidencial», Armando Rafael, Diário de Notícias, 7.5.2007, p. 29). Este texto é sobre a incoerência. Do ministro, perguntam-me? Do jornal. Porque grafou, num intervalo de dias, de formas diferentes o nome do ministro? Em nomes turcos, só há uma forma correcta de os grafar: usar o que pode parecer um trema, mas não é. Nesta língua, não se trata de um diacrítico, mas de uma letra que tem aquele coroamento — para nós, um carácter especial. Por isso o nome Mustafa Kemal Atatürk (1881-1938) não o dispensa. Já em alemão, por exemplo, é diferente: se embirrarmos com o trema (Umlaut, em alemão), podemos substituí-lo por e, como no nome Schröder → Schroeder. E tudo fica bem. Ainda há dias me surgiu o nome (Arnold) Schoenberg, que emendei para Schönberg. Sim, defendo que se deve respeitar escrupulosamente a grafia dos antropónimos estrangeiros. Sim, mesmo que seja Martinů.
Convenho: os jornais ditos de referência vão deixando de o ser, pelo menos no que diz respeito à língua portuguesa, e têm problemas mais graves para resolver. Só não percebo porque não os resolvem.

2 comentários:

José Bandeira disse...

Mestre,

Serve este comentário (muito fora de tempo) para dizer que foi o próprio compositor quem privilegiou o uso da forma Schoenberg, pelo que neste caso talvez se justifique a excepção.

Helder Guégués disse...

Não me parece um argumento de autoridade nem ponderoso: também eu dispenso o acento de «Helder» (e já aqui expliquei porquê), e, no entanto, sei que toda a gente, e com razão, o não dispensa.