Perderam a tramontana
Pode não ser somente um erro das traduções, mas é nestas que o encontrei já diversas vezes. Está-se a falar, por exemplo, da Guerra Civil Americana, ou Guerra da Secessão (1861-65). Esta opôs, como se sabe, o Norte, abolicionista, ao Sul, escravagista. Opôs, pois, os sulistas aos… os sulistas aos… aos nortenhos!? Em espanhol sim, o vocábulo norteño refere-se ao que pertence ou está situado no Norte de qualquer país. Em português, não é assim. Se dessem uma olhadela num qualquer dicionário da língua portuguesa, leriam: «Nortenho, adj. Relativo ao Norte de Portugal.│S. m. Natural ou habitante do Norte de Portugal.» Ainda temos os norteiros, os nortenses e os nortistas — mas cada um no seu sítio. Isto faz-me lembrar um outro caso de tradução que me foi relatado. Tratava-se de um romance inglês, ambientado na Inglaterra do século XIX. Pois o tradutor pôs a personagem principal a passar não por agruras mas «as passinhas do Algarve». Ainda se fosse do Allgarve…
Pode não ser somente um erro das traduções, mas é nestas que o encontrei já diversas vezes. Está-se a falar, por exemplo, da Guerra Civil Americana, ou Guerra da Secessão (1861-65). Esta opôs, como se sabe, o Norte, abolicionista, ao Sul, escravagista. Opôs, pois, os sulistas aos… os sulistas aos… aos nortenhos!? Em espanhol sim, o vocábulo norteño refere-se ao que pertence ou está situado no Norte de qualquer país. Em português, não é assim. Se dessem uma olhadela num qualquer dicionário da língua portuguesa, leriam: «Nortenho, adj. Relativo ao Norte de Portugal.│S. m. Natural ou habitante do Norte de Portugal.» Ainda temos os norteiros, os nortenses e os nortistas — mas cada um no seu sítio. Isto faz-me lembrar um outro caso de tradução que me foi relatado. Tratava-se de um romance inglês, ambientado na Inglaterra do século XIX. Pois o tradutor pôs a personagem principal a passar não por agruras mas «as passinhas do Algarve». Ainda se fosse do Allgarve…
3 comentários:
A propósito do contexto, da propriedade dos vocábulos e da linguagem, das expressões idiomáticas e de traduções, cito a anedota que ouvi contar a José Pedro Machado, meu saudoso Professor, primeiro, e amigo de muitos anos, depois, segundo a qual um empertigado anfitrião português irritado com o seu interlocutor francês o intimava a pôr-se no meio da rua, no seu discurso altivo : - Monsieur, mettez vous au milieu de la rue ! Ao que este retorquia, atónito : - Mais pourquoi au milieu, monsieur ?
Ainda hoje evoco este episódio para ilustrar a inconveniência ou o perigo da traduções literais.
Mais uma vez o felicito pela sua iniciativa, de enorme utilidade pública, em dedicar uma tribuna a temas da Língua Portuguesa, num tempo que descurou até à indignidade o seu estudo e, sobretudo, o seu velho culto.
«Mas há sempre alguém que resiste... Mesmo na noite mais escura…», para relembrar Manuel Alegre, mais afortunado nas Letras que na Política, no meu particular modo de o apreciar.
Muito obrigado pelo seu contributo e pelas suas palavras.
Depois de pensar um pouco chego à conclusão de que não se trata de um erro na tradução. Acredito que essa seja uma questão mais relativa ao preconceito mesmo. No Brasil há um conceito muito ruim quanto aos nortistas, o que difere de muitos outros países onde,quanto mais ao norte, melhor é o status. Quando traduzem os textos a ideia que querem passar é essa, de uma civilização forte, socialmente superior, e daí teve que se roubar a nova designação "nortenho" para não confundir com os nossos nortistas. É só um achismo meu, mas se for isso, é um absurdo.
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