1.5.07

Léxico: «psi»

Mas existe
     


      Há, fora dos dicionários, palavras muito mais vivas e usadas do que milhares de outras que jazem nesses vastos cemitérios que são justamente os dicionários. A inclusão de determinado vocábulo nos dicionários e vocabulários, já o tenho aqui defendido, não pode ser o único nem sequer o principal critério para aferirmos da legitimidade do seu uso. Abra-se qualquer dicionário no verbete «psi». Que podemos ler aí? Pois que psi é um substantivo masculino e significa a vigésima terceira letra do alfabeto grego ψ Ψ. No quotidiano, o que podemos ver é que «psi» também se usa — é ouvir-se o Prof. Júlio Machado Vaz, por exemplo — no sentido de qualquer (psi) ou todos (psis) os terapeutas da psique: psicólogos, psicanalistas e psicoterapeutas. A imprensa também usa o vocábulo neste sentido, embora ainda com o escusado cordão sanitário das aspas: «Na cultura popular, o uso e abuso do sexo terá uma explicação científica. Ironicamente, o pai da psicanálise decidiu praticar a abstinência após o nascimento dos seus seis filhos, como medida de controlo de natalidade. Para os “psis” com tradição analítica, a sexualidade banalizou-se (ao ponto de se discutir quantas vezes se deve fazer) e é usada como arma de arremesso ou antídoto falível para afugentar o mal-estar» (Clara Soares, Visão, n.º 686, de 27 de Abril de 2006). O uso de psi nesta acepção teve origem na língua francesa, muito atreita a reduções, como já aqui referi. Começou, nesta língua, por se usar somente no registo familiar, e muitas vezes com um sentido irónico ou pejorativo. Mais tarde, no início da década de 1970, passou a significar «spécialiste de psychologie; en partic., spécialiste de psychothérapie, de psychiatrie» (in TLFI). Sem ironia.


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