29.5.07

O abuso do hífen

Hífenmania

Hífen-mania

Hífen...

      Subitamente, a palavrinha «geral» deixou de poder atravessar o papel sozinha: tem agora de dar a mãozinha à palavra à sua esquerda. Sinistro! Deixou mesmo de haver assembleias gerais, agora só se realizam assembleias-gerais. Nunca estamos, agora, à vontade, temos de estar, contrafeitos, à-vontade. Nos livros, as personagens tomaram um ar pernóstico e já não dizem bom dia, mas apenas bom-dia. Não nos podemos sentir proactivos: alguém logo nos dirá que se for a favor, é pró, pró-activo. E ficamos reactivos. Se queremos comprar um objecto em segunda mão, há encolheres de ombros, risinhos, porque, finos, só conhecem objectos de segunda-mão. Se chegamos a um beco, não conseguimos fazer marcha atrás: somos obrigados a fazer marcha-atrás. Se perguntarmos, por escrito!, onde é a casa de banho, ninguém sabe, e não é por não saberem ler. O que é isso?, logo perguntam. Servirá uma casa-de-banho? Os filmes deixaram de ter banda sonora. Se queremos ouvir, mesmo de má vontade (má-vontade?, inquirem), só banda-sonora. As mulheres, mesmo nas minisséries, já não usam minissaias: usam, nas mini-séries, mini-saias. Deixámos igualmente de poder comer alimentos poliinsaturados: se queremos, também temos de engolir o hífen: poli-insaturados. De boa vontade acabava aqui, mas não me deixam, querem que seja de boa-vontade. Acabo.

1 comentário:

Ricardo disse...

Hoje em Sete Rios vi uma tabuleta a dizer "vende-se moeda-antiga".