Só para mestres
Um consulente do Ciberdúvidas, Leonel Mayer, quis saber se a construção «intime-se-a» é errónea. Trata-se, pois, da conformidade de se com outros pronomes. O consultor Carlos Rocha afirma categoricamente que «o pronome se, seja qual for o seu valor (partícula apassivante, sujeito indeterminado, pronome reflexo), não é compatível com o pronome átono de obje(c)to dire(c)to da 3.ª pessoa (o/a, os/as)». Conclui dizendo que «a frase em questão é, portanto, agramatical (*«intime-se-a»)».
Um consulente do Ciberdúvidas, Leonel Mayer, quis saber se a construção «intime-se-a» é errónea. Trata-se, pois, da conformidade de se com outros pronomes. O consultor Carlos Rocha afirma categoricamente que «o pronome se, seja qual for o seu valor (partícula apassivante, sujeito indeterminado, pronome reflexo), não é compatível com o pronome átono de obje(c)to dire(c)to da 3.ª pessoa (o/a, os/as)». Conclui dizendo que «a frase em questão é, portanto, agramatical (*«intime-se-a»)».
Invulgar, sim, mas sempre a tive como correcta. Se um argumento de autoridade servir, leia-se Fernando Venâncio na obra Maquinações e Bons Sentimentos (Campo das Letras, 1.ª ed., 2002): «Tome-se um português, observe-se-o de todos os lados, por dentro e por fora, da ponta dos pés ao cimo da alma» (da crónica «O português em quatro volumes», p. 65). Distracção do autor, acha Carlos Rocha? Mais um exemplo, ao virar da página: «Apreciando distanciadamente os hábitos gerais, pegava-se de quando em quando um indivíduo pelo chumaço, e deixava-se-o ir logo depois, amarrotado, desconjuntado, ávido de que chegasse a vez de outro.» Continuaria por aqui fora, com exemplos deste e de outros bons autores — mas tenho ali o pequeno-almoço à minha espera.
8 comentários:
Esta "calinada" do Carlos Rocha é mesmo imperdoável.
Sem "arcaboiço" para explicar porquê, escreveria "intime-se-la", deixava-se-lo" e "observe-se-lo" com toda a convicção de que é assim que se escreve.
"Vê-se-o/a daí?" é um corriqueiro exemplo que, a par de muitos outros, faz-nos pensar que o consultor em vista não vai além de um mero repetidor do que porventura leu algures.
O Carlos Rocha voltou a meter o pé na poça hoje (21/09/2007) na resposta à pergunta «Relação de paronímia, novamente», ao confundir palavras parónimas com palavras homógrafas.
Há estudiosos que só consideram homógrafas as palavras que têm exactamente a mesma grafia — incluindo sinais gráficos. Logo, Carlos Rosa não errou: seguiu uma certa doutrina.
Compreendo; a Maria Regina Rocha, por exemplo, segue essa doutrina. Mas se assim fosse, o Carlos Rocha não teria alterado a sua resposta inicial, como já fez. Acontece que o(a) professor(a) da aluna não é um desses estudiosos que o Hélder refere. Limitou-se a retirar o exercício de um livro que segue a outra doutrina. Basta colocar "A caricatura nem sempre é uma crítica" no Google para chegar a esta conclusão.
Pois é, mas eu li a primeira resposta de Carlos Rosa. Este consultor, aliás, é muito atreito a responder qualquer coisa e mais tarde a alterar completamente a resposta. Não é fiável e fica a gente sem sabe qual a opinião mais correcta. A questão, contudo, merece ponderação.
E mais: a espertinha que fez a pergunta mandou as frases já corrigidas e não as que constam do Caderno do Aluno. Que grande trapalhada!
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