16.6.07

Bode expiatório

Vai para longe

Contaram-me, certa vez, que um homem pernóstico de Ferreira do Alentejo (ou seria de Grândola?) dizia convictamente «bode respiratório». Um dia tinha de acontecer: um tradutor escreveu «bode expiratório», o que constitui uma aproximação muito razoável. Dizia o original: «Buscar un cabeza de turco: no le gustaría a outra persona (por ejemplo, de la oficina central).» E a tradução: «Procurar um bode expiratório: não agradaria a outra pessoa (por exemplo, do escritório central).» Esta é a oportunidade para dizer que os termos inglês e francês são muito mais claros, quase auto-explicativos: scapegoat e bouc émissaire. Em espanhol também se diz chivo expiatorio. A explicação está na Bíblia, em Levítico 16: 8-10: «Aarão tirará à sorte os dois bodes: um para o Senhor e outro para Azazel. Aarão deverá oferecer ao Senhor o bode que a sorte designou para tal, apresentando-o em sacrifício pelo pecado; e o bode, que a sorte designou para Azazel, deverá ser apresentado vivo diante do Senhor, a fim de fazer sobre ele o rito da purificação e ser enviado a Azazel, no deserto.» Era pois por meio de um bode que os Judeus expiavam as suas culpas diante do Senhor. Como o bode era carregado, no Dia do Perdão, com as culpas dos homens e enviado para o deserto, a expressão passou a designar o inocente sobre quem recaem as culpas dos outros. No original, o termo traduzido por bode expiatório era hazazel (que está dicionarizado em português com este mesmo significado), presumivelmente o nome de um demónio do deserto, embora, ao que parece, não se trate de um vocábulo hebraico. O próprio ritual terá tido origem entre os antigos Egípcios.

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