«Anything can be said about anything»,
George Steiner
George Steiner
Anteontem, ouvi na Antena 1 uma médica falar da «consulta de revisão» de uma mulher que dera à luz um mês antes. O marido desta queixava-se de que lhe sentia na vagina como que uns dentes. A médica rira-se, confessou. (A modéstia fica bem, mas aos outros.) Estupidamente, veio depois a saber-se, porque, às vezes, como diz Joaquim Manuel Magalhães, o que não é possível põe-se a acontecer: a mulher tinha mesmo lá uns «dentes»: o seu organismo não absorvera os pontos de catgut, como normalmente acontece. Catgut, pois. Ainda recentemente alguém me disse que «categute» (como está aportuguesado e prefiro) era um termo desusado. Pois, pois. Catgut, literalmente, é «intestino de gato» (de cat, gato + gut, intestino), mas na verdade é um fio de colagénio feito — sobretudo na Índia, país que fornece igualmente metade da encomenda anual de vacinas das Nações Unidas, que são administradas a dezenas de milhões de crianças dos países em desenvolvimento — a partir da serosa (tripa) bovina, sendo considerado um material absorvível. A forma antiga da palavra era kitgut (de kit, pequeno violino + gut, intestino), pois o material também é usado para cordas de instrumentos musicais, e em especial para violinos.
«Categute, m. (do inglês catgut). Fio animal, geralmente de tripa de carneiro, usado em ligaduras e suturas» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado). A Academia das Ciências de Lisboa extraviou, infelizmente, este verbete.
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