6.6.07

Uso da vírgula


Quem sabe, sabe


      Um leitor, H. S., chamou-me a atenção para a novíssima palavra de ordem da RTP2, «Quem vê, quer ver», cuja pontuação considera errada. Trato dessa matéria no meu manual, e lamento, mas discordo. Tal como acontece com os termos paralelos dos adágios e aforismos, o uso da vírgula é de regra: «Quem com ferro mata, com ferro morre.» E porquê, perguntam? Pois porque a vírgula separa orações diferentes, ou não? Não se pode afirmar, suponho, que no caso em apreço temos uma vírgula a separar o sujeito do predicado, pois temos duas orações.
      Nesta matéria, não posso dizer, como Shakespeare, «No, Time, thou shalt not boast that I do change». Mudei: antes pensava que não devia usar-se vírgula em frases deste tipo, justamente porque me parecia ver ali uma vírgula a separar — crime de lesa-gramática — o sujeito, «quem», do predicado, «quer ver». Só não via o «vê». Como quando procuramos desesperadamente a esferográfica e a temos na mão.
      A tempo o digo para não mo dizerem: se consultarmos, por exemplo, O Grande Livro dos Provérbios, de José Pedro Machado, veremos que os provérbios com que ilustro os meus argumentos estão registados sem vírgula. Opiniões. Se fosse antes O Grande Livro dos Provérbios de Helder Guégués, teriam vírgula.

2 comentários:

Ricardo disse...

Penso que se pode escrever das duas maneiras, com ou sem vírgula. Note, Helder, que em Semântica, não há duas orações, mas apenas uma...

Helder Guégués disse...

Seria, mas não quero que seja, escusado dizer ao Ricardo que não concordo. Importante é, isso sim, podermos esclarecer algumas ideias sobre a língua.