20.7.07

Português fundamental

A esmo

«Não afiançou, em Cuba, Otelo Saraiva de Carvalho que as Forças Armadas Portuguesas iriam participar no desenvolvimento do Norte do país onde, segundo ele, existiriam localidades cujos “habitantes têm um vocabulário inferior a 500 palavras”?» («ATL», Helena Matos, Público, 19.07.2007, p. 44). Estimativa ou caricatura? Quinhentas palavras — ou seja, aproximadamente um quarto do designado «Português Fundamental», de que dez anos mais tarde comecei a ler na imprensa. Lemos em Fernando Venâncio ecos desta, hoje esquecida, questão: «Foi ainda em 1984 que cometi o meu segundo grande erro por confiar na humanidade. Dera eu tempo, durante meses, a que se atentasse criticamente num projecto linguístico de que saíam os primeiros frutos, e que eu, e por certo muita gente, longos anos acalentara: aquele que vinha estabelecer o “Português Fundamental”. Se hoje não se sabe já o que isso era, a culpa em parte é minha. Mas o próprio acontecimento — e dizer que ele era de importância suma — a quase ninguém ocupou. Recordo apenas Afonso Praça e Luiz Fagundes Duarte.
Tomei, pois, várias e preciosas páginas de jornal para mostrar, desolado, a inanidade dos resultados dessa investigação já longeva e porventura cara. Pretendera-se nela (e isso era apenas um começo) apurar os cerca de dois mil vocábulos mais frequentes no nosso português, operação decerto quantitativa, mas destinada a demonstrar, no plano da qualidade, marcados méritos, ao facilitar a planificação do ensino da língua e permitir a elaboração de textos em grau variável de dificuldade» («Autobiografia», in Maquinações e Bons Sentimentos. Campo das Letras, 1.ª ed., 2002, pp. 231-32).

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