4.7.07

Semântica: «mongolismo»

Uma controvérsia


      A leitora M. A., em conversa com um amigo, usou o termo «mongolismo», tendo sido censurada por o ter feito, pois, na opinião desse amigo, era termo «popularucho», querendo com isso significar que era próprio dos ignaros usá-lo. M. A. quer saber a minha opinião. Bem, é verdade que algumas, pouquíssimas, publicações e sites se vêem forçados a explicar que é termo «popular» ou usado pelo «vulgo». Contudo, é bom ver mais longe. Assim, só em 1964 é que a revista médica The Lancet deixou de usar o termo; a Organização Mundial de Saúde (OMS) fê-lo em 1965 e o Index Medicus só em 1975 o expungiu. Aliás, se é pejorativo é para os Mongóis, pois foi a representação da Mongólia junto da OMS a primeira a apresentar um protesto formal pelo uso do termo em medicina. À luz da teoria da evolução, parecia o termo adequado, e a designação síndrome de Down, que é uma homenagem ao médico inglês John Langdon Haydon Down (1828-1896), que em 1866 descreveu algumas crianças com esta síndrome internadas num asilo em Surrey, só mais tarde foi adoptada. Somente em 1958, com a descoberta do Dr. Jérôme Lejeune (1927-1994) de que esta síndrome é provocada pela existência de um cromossoma 21 supranumerário, é que se passou a designar por trissomia 21. Nenhum dos dicionários que consultei dá conta do facto de ser vocábulo pejorativo, excepto o Dicionário Médico de L. Manuila et al., publicado pela Climepsi, que diz que é «termo actualmente rejeitado», embora não se abstenha de, no verbete «síndrome de Down» (e, significativamente, não deixa de ter o verbete «mongolismo»), referir os «Mongóis» e o «fáceis mongólico».