A ilha dos escravos
Os topónimos estrangeiros por vezes dão a volta à cabeça das pessoas. Sobretudo dos revisores. Há certo tempo, um autor insistia em escrever «Gorée», a pequeníssima ilha ao largo de Dacar que foi entreposto de escravos e é actualmente Património Mundial da Humanidade. Descoberta em 1444 pelos Portugueses, o nome foi-lhe dado pelos Franceses, que se assenhorearam dela no final do século XVII. De então para cá, decorreu tempo suficiente para o topónimo ter sido, como foi, aportuguesado para Goreia. Em Fevereiro de 1992, o Papa João Paulo II visitou a ilha, pedindo então, em nome dos Europeus, perdão por todo o mal causado a África ao longo dos séculos. Também George W. Bush esteve, em 2003, na Goreia, assim como, antes dele, Bill Clinton. Durante a visita de Bush, as autoridades de Dacar decidiram limpar as ruas de vendedores e de outras personagens igualmente conspícuas, concentrando-as num campo de futebol. Que ironia. Como acto simbólico, a visita é muito comovedora, sim, mas o pior é o que os Estados Unidos fizeram e continuam a fazer em África. O Darfur é um exemplo bem claro.
Os topónimos estrangeiros por vezes dão a volta à cabeça das pessoas. Sobretudo dos revisores. Há certo tempo, um autor insistia em escrever «Gorée», a pequeníssima ilha ao largo de Dacar que foi entreposto de escravos e é actualmente Património Mundial da Humanidade. Descoberta em 1444 pelos Portugueses, o nome foi-lhe dado pelos Franceses, que se assenhorearam dela no final do século XVII. De então para cá, decorreu tempo suficiente para o topónimo ter sido, como foi, aportuguesado para Goreia. Em Fevereiro de 1992, o Papa João Paulo II visitou a ilha, pedindo então, em nome dos Europeus, perdão por todo o mal causado a África ao longo dos séculos. Também George W. Bush esteve, em 2003, na Goreia, assim como, antes dele, Bill Clinton. Durante a visita de Bush, as autoridades de Dacar decidiram limpar as ruas de vendedores e de outras personagens igualmente conspícuas, concentrando-as num campo de futebol. Que ironia. Como acto simbólico, a visita é muito comovedora, sim, mas o pior é o que os Estados Unidos fizeram e continuam a fazer em África. O Darfur é um exemplo bem claro.
4 comentários:
Caro Helder,
A propósito de Goreia: os holandeses chegaram lá em 1637 ou 38, juntamente com os franceses, e dizem eles que deram à ilha o nome de "Goeree" (a pronuncia aproximada é "guré"), que é também o nome que, desde data imemorial, tem uma ilha a sul de Rotterdam. Quem terá razão?
Outras personalidades também já visitaram a Ilha de Gorée (ou, aportuguesando, Goreia). Entre elas, Nelson Mandela e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este em 14 de abril de 2005.
Na ocasião, Lula, inspirado no exemplo do Papa João Paulo II, pediu perdão pela escravidão no Brasil, para onde foram levados quatro milhões de escravos africanos, afirmando: “Não tenho responsabilidade pelo que ocorreu nos séculos XVIII, XVII e XVI, mas penso que é uma boa política dizer ao povo do Senegal e ao povo da África; perdão pelo que fizemos aqui aos negros.”
Fotografias da visita de Lula são mostradas no site
http://www.imprensa.planalto.gov.br/exec/inf_fotografia.cfm?diafoto=14&mesfoto=4&anofoto=2005
Caro José
Há quem diga que os Holandeses se anteciparam um pouco aos Franceses, e esse facto que traz ao meu conhecimento parece-me então pesar muito para tender a crer que estes últimos afrancesaram o nome para «Gorée».
Caro Roberto Benévolo
Obrigado pelo seu contributo. Sim, o simbolismo do gesto tem levado lá muitos políticos. Como é natural, quase todos os dirigentes dos países das Américas têm legitimidade histórica, que não obrigação, para o fazer. Entretanto, vai-se ouvindo, aqui e ali, falar em indemnizações a atribuir aos povos que foram despojados da sua população desta forma vil.
Enviar um comentário