2.8.07

Tradução: «breech birth»

Imagem: http://www.livius.org/

Assim já percebo

O que é breech birth, em português? Será caso para dizer, como Santo Agostinho a propósito do tempo, se não mo perguntarem, sei? Talvez não, mas o certo é que em pouco tempo o vi traduzido de duas formas: «parto de nádegas» e «parto pélvico». E até, mas já numa pesquisa na Internet, «parto falhado». Estarão todos correctos? Apenas dois? Somente um? Nenhum?
Comecemos por este último. «Cerca de 97% dos bebés nascem saindo primeiro a sua cabeça. O esqueleto do feto é suave e flexível, o que ajuda a cabeça a passar pelo canal vaginal. No entanto, 2,4% dos bebés nascem primeiro pelos pés; isto é chamado de nascimento falhado (breech birth)» (Ver aqui.) Não se me afigura um termo técnico, e até o reputo equívoco. Em relação à primeira locução, «parto de nádegas», precisamos de ver a definição inglesa para a aferirmos. «Before birth, most babies are in a head-down position in the mother’s uterus. That’s why most babies are born headfirst. Sometimes the part of the baby that is head down is not the head, but the buttocks or the feet. When a baby is in that position before birth, it’s called a breech birth or breech baby» (in Familydoctor.org). Logo, se é «the buttocks or the feet», «parto de nádegas» não é correcto, pois só contempla metade da definição.
Finalmente, «parto pélvico». Foi num laudo médico, subsumido num acórdão, que encontrei, claríssima, a definição: «A referida parturiente compareceu no serviço de urgência, a conselho do seu médico assistente que lhe recomendara que o fizesse quando sentisse o momento do parto: o que fez levando consigo os exames que fizera anteriormente, tendo sido logo constatado pela enfermeira de turno de que tipo de parto se tratava (parto pélvico). O parto pélvico é um parto de risco e o médico tem que decidir, em primeiro lugar, se vai proceder a cesariana, que se apresenta como recomendada em situações como tais. E, respondida negativamente a esta primeira questão, necessariamente precedendo observação feita pelo médico, este, tendo em atenção que a apresentação se pode dar de “nádegas” ou de “de pés”, mas sempre com a “cabeça última”, com as dificuldades inerentes, com eventuais problemas com o cordão umbilical, dada a posição da apresentação, tem de acompanhar cuidadosamente a evolução da situação» (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, n.º SJ199301070427473, de 7 de Janeiro de 1993).
Só conhecia, e há muitos anos, um termo relacionado com a questão e que nos veio directamente do latim: «Agripa, adj. 2 gén. (do lat. agrippa). Diz-se da criança que, ao nascer, apresenta primeiro os pés» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado). Entre os Romanos, alguns nomes comuns transformaram-se em prænomina, como este agrippa: veja-se, por exemplo, o general e político romano Marcus Vipsanius Agrippa (63-12 a. C.). Por circunstâncias ligadas ao nascimento, outros prænomina tiveram a mesma génese, como Caeso, que significava «cortado do útero», Posthumus, «nascido depois da morte do pai», Spurius, «protegido» (e depois, numa cambalhota semântica, «ilegítimo»), e muitos outros. Voltarei aos prænomina romanos, se os meus leitores acharem útil.

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