9.9.07

Registo linguístico

Anais e menstruais

      No Público de hoje, a jornalista Mariana Oliveira traça «A história do casal McCann»: «Nos entretantos, mais precisamente em 2004, conta o Expresso, viveram em Amesterdão, onde Gerry tirou uma especialização em Imagiologia» (p. 7). Não me parece que escrever «nos entretantos» se adeqúe ao que se espera de um jornal dito de referência. É mais próprio do telenovelesco prefeito Odorico Paraguaçu, no Bem-Amado: «Deixemos de lado os entretantos e vamos directo aos finalmentes!» A continuar assim, ainda vamos ver o Público a escrever que este caso «entrará para os anais e menstruais do País e do mundo».

2 comentários:

Anónimo disse...

“Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país.” (frase dita por Odorico Paraguaçu)
Uma das perguntas para testar o DNA (Data de Nascimento Avançada) de alguém é: “Sabe quem foi Odorico Paraguaçu?”.
Como nem todos seus leitores respondem afirmativamente à pergunta, adianto algumas informações sobre o assunto.
Na novela “O Bem Amado”, de Dias Gomes, obra máxima da televisão brasileira, exibida pela TV Globo, em 1973, Odorico Paraguaçu (vivido por Paulo Gracindo) era o prefeito da fictícia cidade de Sucupira, no litoral da Bahia, onde ninguém morria, com fixação de inaugurar o cemitério municipal; para ver seu sonho realizado, contratou Zeca Diabo (vivido por Lima Duarte), temido por sua fama de matador, mas que já havia deixado de lado a vida de pistoleiro.
O enredo da novela pode ser visto no site:
http://www.arcadovelho.com.br/Amado/O_Bem_Amado.htm
(com música ao fundo).

Anónimo disse...

Mais esclarecimentos sobre o Odorico Paraguaçu.
Em sua coluna de 13/09/2007, na Tribuna da Imprensa Online, o colunista Sebastião Nery conta que foi o cemitério de Guarapari, no Espírito Santo, que inspirou Dias Gomes a criar o verboso e barroco prefeito Odorico, da novela “O Bem Amado”.
Apesar de longo, permito-me transcrever, abaixo, a notícia, uma vez que ela não será mantida na Internet.

“O verdadeiro Odorico
Odorico Paraguassu nasceu em Guarapari. Antes de ser descoberta para a medicina pelo cientista e acadêmico Silva Melo, antes de os estrangeiros lastrearem navios com a areia monazítica de suas praias e também antes de o poeta Augusto Frederico Schmidt lá criar sua Orquima, Guarapari já despertava atenção pela longevidade de seus habitantes.
A inauguração do cemitério de Guarapari é que inspirou o magistral baiano Dias Gomes a criar seu verboso e barroco prefeito Odorico. A história verdadeira é que não havia defunto para estrear a primeira cova do cemitério de Guarapari. Foi preciso importar um da vizinha cidade de Benevente, hoje Anchieta. No discurso de inauguração, o velho prefeito, o verdadeiro, disse: "Este é um lugar calmoso e hereditário, onde se respira o ar por conseqüência, tendo de um lado o oceano marital e do outro o oceano matagal".
Ainda irritado porque nenhum habitante havia colaborado corporalmente para a inauguração, o prefeito baixou uma portaria: "Todos os defuntos mortos, enterrados fora do cemitério, serão multados e recolhidos aos cofres municipais".
Dias Gomes
Dias Gomes, que por esses tempos ainda vivia com um pé lá pela nossa Bahia, inspirado na história do cemitério de Guarapari, escreveu em 1961, quando a TV Globo ainda não existia (nasceu em 1965), a peça teatral "Odorico bem-amado ou Os mistérios do amor e da morte", localizada em Sucupira, uma fictícia cidadezinha baiana à beira-mar. A peça foi levada ao palco inclusive por Procópio Ferreira.
Folclore político
Uma década depois, em janeiro de 73, a TV Globo produziu e pôs no vídeo a telenovela "O bem-amado", com direção de Regis Cardoso e supervisão de Daniel Filho, e, no elenco, entre tantos outros, Paulo Gracindo, Lima Duarte, Emiliano Queiroz, Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio fazendo os inesquecíveis Odorico Paraguassu, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta e as Irmãs Cajazeiras. Um sucesso fantástico.
Na primeira edição de meu "Folclore político nº 1", em 73, contei toda a história de Guarapari com seu cemitério sem morto, o primeiro cadáver arranjado em Benevente (hoje Anchieta), o estapafúrdio discurso inaugural do prefeito e como Dias Gomes nela se inspirou para criar a sua magnífica Sucupira e o genial prefeito Odorico Paraguassu.
Besteirol
Por que relembrar essa história agora? Para mostrar a que nível de estulta mediocridade está chegando nossa chamada "grande imprensa".
Com o insuperável Marco Nanini fazendo o Odorico, "O bem-amado" voltou ao palco esta semana, no Teatro das Artes, aqui no Rio. E em "O Estado de S. Paulo" de sexta, dia 7, um tal senhor Ubiratan Brasil escreveu um texto inacreditavelmente besteirol, ridículo e escalafobético, para "explicar" a peça:
"Coronel de Sucupira foi inspirado em Carlos Lacerda (sic) - Em 61, Dias Gomes satirizou o então prefeito (sic!!!!) do Rio (Lacerda nunca foi prefeito do Rio, mas governador da Guanabara), que pretendia (sic) transformar o Parque Lage em um cemitério".
(...)”