Os deslizes de García Marquez
Interrogado sobre como é o seu processo de tradução, Eric Nepomuceno (que traduziu sobretudo obras de Julio Cortázar, Juan Carlos Onetti e Gabriel García Marquez) afirma: «Leio enquanto traduzo. Antes, não. O processo é exatamente o mesmo de quando escrevo meus contos. Começo à mão, até o texto ganhar fluidez. As palavras ganham mais peso, demoram mais para chegar. Quando chegam e começo a deslanchar, então posso ir para o computador. Na primeira versão, jamais vou ao dicionário. Imprimo tudo correções na tela, jamais e começo a revisão. E aí sim, na segunda versão, recorro aos dicionários. Uso o da Real Academia Espanhola, e principalmente a enciclopédia Larousse. Não conheço nenhum bom dicionário espanhol-português. Então, fico mesmo nos espanhóis. Os de sinônimos costumam ser úteis. Ah, sim: uso muito o Aurélio. Em alguns autores, como Rulfo ou o próprio García Márquez, muitas vezes a solução está lá. Eles usam um castelhano muito castiço, com muitas palavras que também estão no português arcaico» («Até García Márquez comete ‘gazapos’», Vivian Rangel e Alvaro Costa e Silva, Jornal do Brasil, 17.11.2007, p. 4). «Deslanchar»? Adaptado do francês déclencher, significa dar impulso ou ganhar impulso. Ah, sim: o gazapo* de García Marquez: a da primeira e célebre frase de Cem Anos de Solidão: «Muchos años después, frente al pelotón de fusilamiento, el coronel Aureliano Buendía había de recordar aquella tarde remota en que su padre lo llevó a conocer el hielo.» Habría deveria ter escrito, o que foi agora corrigido na edição comemorativa do 40.º aniversário da publicação.
Interrogado sobre como é o seu processo de tradução, Eric Nepomuceno (que traduziu sobretudo obras de Julio Cortázar, Juan Carlos Onetti e Gabriel García Marquez) afirma: «Leio enquanto traduzo. Antes, não. O processo é exatamente o mesmo de quando escrevo meus contos. Começo à mão, até o texto ganhar fluidez. As palavras ganham mais peso, demoram mais para chegar. Quando chegam e começo a deslanchar, então posso ir para o computador. Na primeira versão, jamais vou ao dicionário. Imprimo tudo correções na tela, jamais e começo a revisão. E aí sim, na segunda versão, recorro aos dicionários. Uso o da Real Academia Espanhola, e principalmente a enciclopédia Larousse. Não conheço nenhum bom dicionário espanhol-português. Então, fico mesmo nos espanhóis. Os de sinônimos costumam ser úteis. Ah, sim: uso muito o Aurélio. Em alguns autores, como Rulfo ou o próprio García Márquez, muitas vezes a solução está lá. Eles usam um castelhano muito castiço, com muitas palavras que também estão no português arcaico» («Até García Márquez comete ‘gazapos’», Vivian Rangel e Alvaro Costa e Silva, Jornal do Brasil, 17.11.2007, p. 4). «Deslanchar»? Adaptado do francês déclencher, significa dar impulso ou ganhar impulso. Ah, sim: o gazapo* de García Marquez: a da primeira e célebre frase de Cem Anos de Solidão: «Muchos años después, frente al pelotón de fusilamiento, el coronel Aureliano Buendía había de recordar aquella tarde remota en que su padre lo llevó a conocer el hielo.» Habría deveria ter escrito, o que foi agora corrigido na edição comemorativa do 40.º aniversário da publicação.
* Vocábulo espanhol derivado por regressão de gazapatón, e este do grego κακέμφατον, através do latim cacemphăton, «dito malsoante».
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