Cenas
«Nossa idéia inicial era escolher nossas melhores esquetes e textos e, a partir daí, convidar atores que a gente gosta para interpretar estes personagens. Assim, acreditávamos não haver erro — conta o diretor Leandro Goulart» («Humor, crítica e sarcasmo: os ingredientes de ‘Pout-PourRir’», Luiz Felipe Reis, Jornal do Brasil/Barra, 2.11.2007, p. 4). Irreconhecível, mas sim: o sketch inglês: encenação curta de peça teatral, de programa de rádio ou de televisão, geralmente de carácter cómico.
Quando chegaremos a esta simplicidade no aportuguesamento de palavras estrangeiras? Ainda ontem tive de rever um texto em que aparecia a seguinte frase: «É também comum ouvirem-se músicas e canções de Natal por todos os lados, com a ajuda dos rádios e karaoques.» O autor não teve coragem de ir mais além: expungir os dois kk (capas ou cás)* — uma letra que, estupidamente, se proscreveu, pela reforma ortográfica de Gonçalves Viana, do nosso abecedário, continuando, contudo e contraditoriamente, a usar-se, que remédio, nos vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros, em símbolos e em unidades de medida — afigurou-se-lhe demasiado arrojado, um desafio aos deuses. Como revisor, impunha-se intervir no sentido de uniformizar, e fi-lo puxando para o português a palavra, emendando para «caraoque». De resto, registado pelo Dicionário Houaiss e usado (no Brasil escreve-se «caraoquê»).
* Cás, sim, senhores. Claro que o Word, esta inteligência artificial primária, acha que me enganei, alterando para «cãs». A propósito de outra letra proscrita, o w, escreveu Vasco Botelho de Amaral na obra Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português: «W. Poderia apostar em como 90 % dos Portugueses não sabem que o nome “português” da letra w é… éu. (Cf. Viana, Ortografia Nacional, 28,197).
Embora seja esta a forma “portuguesa”, não hesito em pô-la de parte, pois… não pega. Sou contrário à filologia que não tem em conta as realidades da repulsão colectiva.
Mas, se éu nos faz talvez sorrir, o dâbliu e o “double” VÊ não menos se tornam provocadores de sorriso» (p. 578).
«Nossa idéia inicial era escolher nossas melhores esquetes e textos e, a partir daí, convidar atores que a gente gosta para interpretar estes personagens. Assim, acreditávamos não haver erro — conta o diretor Leandro Goulart» («Humor, crítica e sarcasmo: os ingredientes de ‘Pout-PourRir’», Luiz Felipe Reis, Jornal do Brasil/Barra, 2.11.2007, p. 4). Irreconhecível, mas sim: o sketch inglês: encenação curta de peça teatral, de programa de rádio ou de televisão, geralmente de carácter cómico.
Quando chegaremos a esta simplicidade no aportuguesamento de palavras estrangeiras? Ainda ontem tive de rever um texto em que aparecia a seguinte frase: «É também comum ouvirem-se músicas e canções de Natal por todos os lados, com a ajuda dos rádios e karaoques.» O autor não teve coragem de ir mais além: expungir os dois kk (capas ou cás)* — uma letra que, estupidamente, se proscreveu, pela reforma ortográfica de Gonçalves Viana, do nosso abecedário, continuando, contudo e contraditoriamente, a usar-se, que remédio, nos vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros, em símbolos e em unidades de medida — afigurou-se-lhe demasiado arrojado, um desafio aos deuses. Como revisor, impunha-se intervir no sentido de uniformizar, e fi-lo puxando para o português a palavra, emendando para «caraoque». De resto, registado pelo Dicionário Houaiss e usado (no Brasil escreve-se «caraoquê»).
* Cás, sim, senhores. Claro que o Word, esta inteligência artificial primária, acha que me enganei, alterando para «cãs». A propósito de outra letra proscrita, o w, escreveu Vasco Botelho de Amaral na obra Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português: «W. Poderia apostar em como 90 % dos Portugueses não sabem que o nome “português” da letra w é… éu. (Cf. Viana, Ortografia Nacional, 28,197).
Embora seja esta a forma “portuguesa”, não hesito em pô-la de parte, pois… não pega. Sou contrário à filologia que não tem em conta as realidades da repulsão colectiva.
Mas, se éu nos faz talvez sorrir, o dâbliu e o “double” VÊ não menos se tornam provocadores de sorriso» (p. 578).
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