20.12.07

Lexicografia; «repère»

Ça tire

Nunca deixo de ficar espantado — posso? — com certas técnicas e critérios dicionarísticos. Pego, por exemplo, no Grande Dicionário Francês/Português de Domingos de Azevedo (13.ª edição, 1998) e procuro o verbete do vocábulo «repère». Leio: «Sinal ou marca que se põe nas diferentes peças de uma obra para se poderem ajustar com exactidão e facilidade.│Marcas ou sinais que se fazem em uma parede, em um terreno, etc., para se encontrar um alinhamento, um nível, uma altura, uma distância.│Point de repère, ponto de partida; ponto de referência; sinal; indicação.» Ter-me-ei enganado de dicionário? Mas não, este é mesmo um dicionário bilingue. Então, porque é que me aparece uma definição em vez de um ou vários vocábulos correspondentes na língua portuguesa? E a locução final, point de repère, não acaba por condensar as correspondências em português? Repère, afinal, pode ser muita coisa: as nossas miras de acerto, da indústria gráfica, serão repères em francês; em sentido figurado, sim, será um marco, um marco cronológico, por exemplo; um ponto de referência para encontrar uma casa, por exemplo, é um repère; o traço que serve de índice de leitura num instrumento de medida é um repère; as marcas para a posição de montagem de um instrumento são repères; as hastes pintadas de duas cores, chamadas varolas, usadas em trabalhos de topografia, são repères. Etc.


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