6.12.07

Partogénese, engástrio e Cristianismo


ADN


      Lembram-se de ter aqui falado de uma mulher chinesa que, na sequência de uma consulta médica, soube que tinha dentro de si o seu irmão gémeo? Vá lá, não mintam: está aqui. Mal sabia eu que um cientista, Leoncio Garza-Valdés, avançara com essa hipótese para o nascimento virginal (designado partenogénese na literatura científica) de Jesus Cristo. De facto, há várias hipóteses científicas para um nascimento virginal, e, concretamente, para o nascimento virginal de Jesus Cristo. Na obra A Física do Cristianismo, do físico norte-americano Frank J. Tipler, publicada agora pela Editorial Bizâncio (tradução de Jorge Lima e revisão científica de José Félix Costa, professor no Departamento de Matemática do Instituto Superior Técnico), podemos ler: «Em alternativa, a hipótese do próprio Garza-Valdés, a terceira hipótese, é a seguinte. Um tumor com a forma de um embrião masculino não desenvolvido encontrar-se-ia no útero de Maria desde o nascimento. Como observa Garza-Valdés, tais embriões (pelo menos na variedade XX) têm sido relatados na literatura médica, tendo ele próprio tido um paciente que sofria desta anormalidade. O embrião, no caso de Maria, teria fertilizado um dos óvulos dela, do que resultaria o Nascimento Imaculado de Jesus» (p. 214). Frank J. Tipler, contudo, um católico, acha a teoria de Garza-Valdés «moralmente repulsiva», acrescentando que «a acusação de incesto irmão-irmã foi, segundo parece, lançada sobre Maria, em Alexandria, nos inícios da era cristã». Prudente, porém, realça: «Não devemos, no entanto, esquecer que achar uma teoria repulsiva não significa que não seja verdadeira.»
      A tese de Frank J. Tipler é outra: «Um Nascimento Virginal bem mais provável ocorreria caso apenas o gene SRY fosse inserido num cromossoma X de Maria, resultando o nascimento ou de uma célula haplóide [célula que possui apenas um exemplar de cada um dos cromossomas próprios da espécie] na qual se desse duplicação de cromossomas ou de uma célula diplóide [célula que possui uma série dupla de cromossomas homólogos]. No caso haplóide, haveria um gene SRY inserido em cada cromossoma X normal. No caso diplóide, haveria um gene SRY por cada dois cromossomas X normais. Ambos os genomas são distinguíveis dos indivíduos normais do sexo masculino através da realização de testes de ADN convencionais. Um indivíduo do sexo masculino normal disporia do lote normal de genes Y suplementares, enquanto a um indivíduo do sexo masculino XX apenas com o SRY faltariam tais genes. O actual teste-padrão de ADN procura muitos genes Y. (O teste de determinação do sexo que era corrente em meados da década de 1990, inventado por Lucia Casarino e outros, procurava unicamente os genes AMEL-X e AMEL-Y.) Deste modo, o teste-padrão de determinação do sexo permitiria distinguir as diversas maneiras através das quais um indivíduo XX do sexo masculino poderia vir à luz por via de um nascimento virginal» (pp. 203-4).

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