8.1.08

Como se fala na rádio

Capit_ _s de Abril

No noticiário das 21 horas de ontem na Antena 1, o jornalista Daniel Belo disse, convictamente e na sua bela voz, que «Luisão é um dos capitões da equipa».
Primeiro a gramática. É verdade que a maioria dos substantivos terminados em -ão pluraliza, por razões etimológicas, em -ões. (É neste grupo, não esqueçamos, que se incluem os infindáveis aumentativos.) Não é neste grupo, porém, que se encaixa «capitão». Há depois um grupo, reduzido, de substantivos em -ão cujo plural não está definitivamente fixado, como é o caso, por exemplo, de «aldeão», com dois plurais: aldeãos e aldeães; de «ancião», com três plurais: anciãos, anciões, anciães; de «ermitão», etc. Também não é a este grupo que pertence «capitão». «Capitão» faz parte de um grupo, igualmente reduzido, de substantivos que pluralizam em -ães:

alemão/alemães;
bastião/bastiões;
cão/cães;
capelão/capelães;
capitão/capitães;
catalão/catalães;
charlatão/charlatães;
escrivão/escrivães;
guardião/guardiões;
pão/pães;
sacristão/sacristães;
tabelião/tabeliães.

Quanto às circunstâncias do erro. É também verdade que falar não é escrever. Quem escreve pode corrigir sem que os destinatários o saibam. Quem fala em directo numa rádio ou na televisão ou erra e não liga ou corrige. Na minha opinião deve corrigir sempre. Para João Paulo Meneses, autor do excelente Tudo o que se passa na TSF — … para um «livro de estilo» (Editorial Notícias, 2003), não é sempre assim, pelo menos no que respeita aos «pequenos erros»: «Podemos rectificar de imediato mas também deixar seguir: se tivermos em conta que qualquer rectificação funciona como um alerta (redobrado) do próprio erro, então nestas pequenas gralhas a correcção não é necessária» (p. 269). Já aqui apresentei as razões da minha discordância.

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