5.2.08

Tesoura de tosquiar: partes


Vamos tosquiar!

O Global foi entrevistar o último fabricante de tesouras de tosquiar (esquilar ou tosar, como também se diz) em Portugal. Isto interessa-me. Mateus Filipe Miragaia tem 66 anos e mora em Donfins do Jarmelo, no concelho da Guarda. Produz entre 200 e 300 tesouras por ano, que vende a 12 euros cada.
«O fabrico de cada tesoura leva cerca de uma hora. O ferreiro começa por “cortar tiras de 20 ou 21 centímetros de uma chapa de dois metros por um”, numa máquina. Na fase seguinte leva a tira à forja “para lhe dar dois calores que se dão na fase inicial. Um na parte da folha [parte da tesoura que vai cortar a lã] e outro na parte da anca ou [do eixo para trás], seguindo-se a soldadura de uma peça mais fina, em ferro, que é para fazer a asa”. Utiliza um pequeno martelo para moldar o metal incandescente a seu gosto. “O segredo está nas pancadas”, diz, sorridente. Depois, puxa por uma barra de ferro e, também a quente, corta uma ponta daquele que vai ser o futuro eixo da tesoura.
Seguidamente, indica que vai passar com as duas partes da tesoura pelos vários “esmeriz” [esmeril — pedra dura que serve para polir metais] que possui na oficina. “Começo pelo mais grosso e termino no polidor, para a ‘folha’ da tesoura ficar totalmente lisinha”, esclarece. A última fase da concepção do utensílio é a colocação do eixo “quando se liga uma parte da tesoura com a outra”. Antes de dar a tarefa por concluída “tira-lhe o fio para a tesoura não morder [eriçar a lã]”, leva-a junto do ouvido para escutar o “toque” e experimenta a cortando um pedaço de lã. “Esta ainda mastiga um bocado”, observa. Pega no martelo e, três “pancadas” depois, afiança: “Está pronta!” A produção é dada por concluída com a gravação da sua marca, um “carimbo” semelhante a um “pé de pita [galinha]” que exara num dos lados da tesoura» («O último fabricante de tesouras de tosquiar», António Sá Rodrigues, Global, 4.2.2008, p. 14).

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