16.3.08

Léxico contrastivo: «pego»

Escusado será dizer

Como 50 % dos meus leitores são brasileiros, só me fica bem dedicar-me mais à língua portuguesa falada do outro lado do Atlântico. Escusado será dizer — mas Vasco Graça Moura, encarniçado opositor do Acordo Ortográfico, julga-se forçado a dizê-lo, como ainda ontem à noite, no programa Diga Lá, Excelência, na RTP2 — que o Acordo Ortográfico não vai uniformizar particulares formas de dizer, sintaxe, léxico e pronúncia diferentes. Nem podia. Ainda hoje, ao ler um artigo no Jornal do Brasil, topei, mais uma vez, com o estranhíssimo particípio «pego», repudiado pelos próprios académicos brasileiros. E, no entanto, nem os académicos ignoram que a língua segue o seu próprio caminho, alheia às vontades individuais de seres tão efémeros como nós. O texto era, concretamente, uma tradução deste outro publicado no The New York Times: «Mr. Zammer is caught up in a Congressional standoff over immigration overhaul that is punishing employers who play by the rules and that, advocates of change say, could cost small companies billions in lost business» («Businesses Face Cut in Immigrant Work Force», Katie Zezima, 14.3.2008). E a tradução, impensável para um português, saiu assim: «Zammer foi pego por um impasse no Congresso com relação à reforma das leis de imigração, o que está punindo empregadores que seguem as regras e poderá custar às pequenas empresas bilhões em negócios perdidos» («Falta força de trabalho imigrante», Jornal do Brasil, 16.3.2008, p. A27). É caso para dizer que se trata de um particípio duplamente irregular… Por exemplo, como se pronuncia aquele e? É aberto ou fechado? Em que autores respeitáveis abonam o seu uso? Qual é o problema do particípio regular do mesmo verbo, na verdade o único, pois que não se trata de um verbo abundante? Pois é.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo
Nem vou comentar o verbo, quero apenas dizer que o tão falado acordo ortográfico, deverá ficar em "águas de bacalhau".
Não vejo os brasileiros falarem o Português de Portugal e muito menos Portugal adoptar o Português falado no Brasil.
Gostaria imenso de ver o meu país falar corectamente a língua de Camões.
Obrigada
Alguém que admira o vosso trabalho.