7.3.08

Ortografia: «jihadista»

Então pensem

      Devemos grafar — e, pese o desleixo ignóbil de alguns jornais, há absoluto consenso na matéria — jihad como acabei de fazer, pois a palavra não é portuguesa. Não devemos, porém, fazer o mesmo com a derivada «jihadista». Por uma razão muito simples: esta é portuguesa. (Deixem lá o agá no meio! Também «chanfrado» o tem, e vocês importam-se, acaso? Revoltam-se?) Apesar de tudo, quem assim escreve devia parar um pouco e reflectir em casos de analogia. Stress *, por exemplo. É em itálico que a grafamos. Já a derivada «stressado» ninguém a grafa, e muito bem, em itálico. Com um exemplo tão claro, dispenso-me de aduzir outros. «Entretanto, confrontos entre jihadistas e o exército de Israel em Kissufim, na Faixa de Gaza, vitimaram um soldado israelita» («Faixa de Gaza encontra-se em “implosão humanitária”», Meia Hora, 7.3.2008, p. 8).


* Este sim, um estrangeirismo insubstituível, ao contrário do que afirma a equipa do Ciberdúvidas sobre os vocábulos background e kit. É desta maneira derrotista que defendem a língua portuguesa. De kit não digo nada, por achar desnecessário. Quanto a background, já vi alguns dos nossos melhores tradutores, nas mais diversas obras, vertê-lo para «pano de fundo» «enquadramento», «panorama», «antecedentes», «passado», «contexto», «origens», «ambiente», etc.

3 comentários:

Eduardo disse...

Antes de mais, parabéns pela iniciativa.

Vim «aqui» parar justamente por causa da dúvida que me assaltou sobre a possibilidade de se grafar «jihadista» em português - maravilhas do «google» :)

A sua «defesa» da preservação do «h» mudo (espécie ortográfica em vias de extinção) a meio da palavra parece-me acertada; por isso, vou adoptá-la.

Quanto à analogia com «cHanfrado», não me parece a mais acertada, uma vez que o «h» faz parte do dígrafo «ch», pelo que nunca poderia ser suprimido nessa situação concreta.

Contudo, há casos de supressão do «h» inicial em palavras derivadas por prefixação - q.v. «reabilitação» face a «habilitação». Mesmo assim, e para os defensores de «jiadista» (sem «h»), o argumento não colhe, já que o «h» não se vai «encontrar» com o sufixo «-ista».

Um Abraço,

Eduardo Coelho

Helder Guégués disse...

Obrigado pelas suas palavras e pela sua visita.
Quanto à analogia com o vocábulo «chanfrado», é mera provocação. Posso, entretanto, retomar a questão, porque há, de facto, exemplos que posso invocar numa defesa da manutenção do agá.
Cumprimentos,
Helder Guégués

Helder Guégués disse...

Acabei de me lembrar, e é somente um exemplo, da palavra «behaviorista». A quem passa pela cabeça eliminar o h da palavra?