28.7.08

Pontuação

Bem fornecido

Segundo o jornal Global, a Universidade do Algarve vai lançar este ano lectivo a primeira licenciatura em Arqueologia do Sul do país. Acrescenta o jornal: «O objectivo é fornecer, aos futuros arqueólogos, formação específica sobre a verificação e protecção de recursos arqueológicos no âmbito da realização de obras, uma saída profissional em expansão, já que se perspectivam grandes obras públicas, como o Aeroporto de Lisboa e o TGV» («Algarve ensina arqueologia», Global, 28.07.2008, p. 4). Pois é, mas, apesar de deslocado, o complemento indirecto («futuros arqueólogos») não precisa de estar isolado por vírgulas, pois não há má interpretação do termo deslocado, dado que quem fornece, fornece algo a alguém ou fornece a alguém alguma coisa. «O objectivo é fornecer formação específica aos futuros arqueólogos.» «O objectivo é fornecer aos futuros arqueólogos formação específica.»

Actualização em 29.07.2008

Ontem, o mesmo texto (que é da Lusa) foi publicado no Diário de Notícias com ligeiras alterações, entre as quais a ausência das vírgulas: «O objectivo é fornecer aos futuros arqueólogos formação específica sobre a verificação e protecção de recursos arqueológicos no âmbito da realização de obras, uma saída profissional em expansão, já que se perspectivam grandes obras públicas» («Algarve lança curso de Arqueologia», Diário de Notícias, 29.07.2008, p. 12).

2 comentários:

TELMO BÉRTOLO disse...

O complemento indirecto deverá ser colocado depois do complemento directo, já que essa é a ordem directa numa frase. Assim, na minha opinião, a frase ficaria melhor assim: «O objectivo é fornecer formação específica aos futuros arqueólogos.»

Anónimo disse...

Caro Hélder,

antes de mais nada, parabéns por ter um blogue excelente, que, como tradutor e revisor, consulto algumas vezes.

Temo, contudo, não poder concordar consigo neste ponto. Afinal, a ordem da oração no português é sujeito + verbo + objecto directo + objecto indirecto, tal como aponta o telmo bértolo.

Ora, de acordo com a "Guia Alfabética" de Sá Nogueira, por exemplo, "o complemento directo (...) nunca se separa por vírgula do verbo (...), a não ser quando haja uma intercalação ou uma transposição que provoque uma intercalação". Tal como, é bom de ver, fizeram no texto que apareceu no "Global".

Como revisor de imprensa que sou, e aceitando de boa vontade a pancada que a revisão de textos jornalísticos leva neste país (e, talvez de forma masoquista, considerando-a bem merecida, inclusive!), não posso deixar de por uma vez defender os meus companheiros/as que remam nestas galés... Sobretudo numa questão como as vírgulas, cujo uso tão abastardado levou a que perdessem quase por completo o seu valor gramatical e tenham passado a ser, hoje, meras "pausas para respirar".