7.8.08

Estação parva

Parva mas portuguesa

      Arrastado por Ferreira Fernandes, também eu me começo a interessar pelo paradeiro de Pascal Henry, o gourmet suíço misteriosamente desaparecido. Os mais importantes jornais já referiram a notícia, desde o The Times, The Independent (que tem o melhor título), El País… you name it… Perdão, os que quiserem. Aliás, a propósito de inglesices, o que eu queria mesmo era congratular-me com o facto de Ferreira Fernandes não ter usado a expressão silly season, mas «estação parva».
      «Bendita a estação parva que permite atenção a notícias parvas: um homem desapareceu. Fosse ele Fevereiro ou Novembro, dias de estações cheias, não ligaríamos, ocupados que estávamos com uma moção de censura. Assim, dou conta que um homem desapareceu. Ele foi comer ao restaurante El Bulli, catalão e o mais premiado do mundo — “tenho uma reserva no El Bulli”, digo quando quero relançar o interesse de uma amiga —, ao pagar, não tinha carteira, foi ao carro e nunca mais foi visto. Simples caloteiro? Não — vou sabendo, saboreando o caso (que já vai numa semana). O homem visitava todos os restaurantes do mundo, são 68, com 3 estrelas Michelin. Com o El Bulli estava a meio da lista (restaurante 40.º). Já engoli o anzol. O homem era simples estafeta, desses que entregam envelopes de moto. Já não preciso de anzol, estou viciado. O homem tinha um patrocinador misterioso. Parva ou não, só darei por encerrada a estação quando souber tudo sobre o homem que desapareceu» («Um dia, as notícias serão todas assim», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 8.08.2008, p. 64).

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