23.9.08

Antropónimos


Questão maiúscula




      Lê-se na edição de hoje do Meia Hora: «Fomentar o gosto pela leitura é o objectivo da Comunidade de Leitores Almedina, que vai realizar várias sessões de leitura e debates no Atruim [sic] Saldanha com autores nacionais. Até amanhã, pelo telefone 213570428, pode inscrever-se no encontro com Valter Hugo Mãe» («Leitura Partilhada na Almedina do Saldanha», Meia Hora, 23.09.2008, p. 11).
      Fica a informação. Ah, mas esquecia-me do mais importante. Estão a ver como o jornalista escreveu o nome do escritor? Valter Hugo Mãe. Ora, precisamente ontem, o sólido, centenário e imprescindível Diário de Notícias escrevia: «O escritor valter hugo mãe apresentou sábado na Fnac do Colombo, em Lisboa, o romance, o apocalipse dos trabalhadores, e o projecto musical Cabesssa Lacrau, nascido no final de 2007, da reunião com três músicos: António Rafael, dos Mão Morta e Um Zero Amarelo, Miguel Pedro, também dos Mão Morta e dos Mundo Cão, e Henrique Fernandes, dos Mecanosphere de Adolfo Luxúria Canibal» («valter hugo mãe estreia novo projecto musical», Diário de Notícias, 22.09.2008, p. 52).
      Se tiverem de escrever o meu nome, quase certamente o sobrecarregam com um peso que ele oficialmente não tem: o acento agudo. Na verdade, o meu nome é Helder. Em contrapartida, vergam-se ao capricho de um indivíduo que quer que os outros lhe escrevam o nome com minúsculas. Estão a ver o símbolo que está na imagem acima? É o nome por que, a partir de certa altura, o cantor Prince quis ser conhecido. Imaginem agora que um escritor queria ser conhecido por um espaço em branco. Não seria complicado para os leitores? Vá lá, senhores jornalistas, sensatez.


8 comentários:

Anónimo disse...

São pindéricos ademanes, Helder. Também no «Público» fazem a vontade ao senhor.

Não lhes dê descanso.

Helder Guégués disse...

É o que vou fazendo, Fernando.
Um abraço,
Helder

Helena Velho disse...

Será tão abstruso o Valter que escreve em minúsculas, como forma de estilo literário, de cadência ou não cadência, assinar as suas obras como escreve? Eu acho que ser escritor não é só escrever bem, sem erros, sem tropeções lamentáveis...É também arte e como tal devemos( mesmo que não entendamos)permitir essa(s) liberdade(s) ao artista.
Os poetas inventam palavras, criam metáforas impensáveis nos românticos, mas se eu disser/escrever que gosto de ameigar( de ser meiga com) vão-se rir, certo? Mas se eu fosse poeta e apadrinhada como nova-poeta ninguém viria indignar-se por essa minha desfaçatez, ou viria???
E "fazer a vontade ao senhor" soa-me a compadrio falacioso, que falo com conhecimento de causa, o Valter não cultiva.
O escritor é valter hugo mãe. O homem/cidadão é Valter Hugo Mãe. Vem mal ao mundo transcrever o nome do escritor em detrimento do nome do bilhete de identidade?
Eu, na minha ignorância, não o vejo, mas o especialista é o Dr. Helder Guégués( que por acaso no blogue assina em minúsculas o seu próprio nome).Sou apenas uma fiel leitora da sua maravilhosa ajuda em forma de blogue.

Um abraço!

Helder Guégués disse...

Não tarda nada e também me vai assacar que não faço entrada de parágrafos… Não confunda, Maria Velho, opções com limitações da plataforma em que publicamos.
Mas o principal: reparou que a minha crítica vai toda para a imprensa servil que se presta a esse acto não criativo de grafar o nome do escritor?
Cordialmente,
Helder Guégués

Anónimo disse...

Sim, essa Maria Velho, movida por um não sei que de servilismo ao escritor em causa, não teve a capacidade de perceber que a crítica é aos jornalistas que grafam mal um nome, atendendo a um capricho.

Já agora, Helder, o que acha de escritores que criam palavras? Existe um critério que permite a criação das mesmas, se não estou em erro. Sei que Filinto Elísio criou várias, e é um linguísta que tenho em consideração.

Helder Guégués disse...

Para mim, só há um limite (ao contrário do que poderão imputar-me certos bichos-caretas) a essas criações: a compreensão do leitor. Se o leitor perceber, está tudo bem.

Helena Velho disse...

O anónimo que me chama "Essa Maria Velho, movida por um não sei que de servilismo ao escritor em causa, não teve a capacidade de perceber que a crítica é aos jornalistas que grafam mal um nome, atendendo a um capricho" também não tem as suas capacidades bem desenvolvidas, nem cognitivas, nem de suporte social ...já reparou que nem o seu nome(mesmo que inventado!) deixou registado?
Mas, o que me interessa é todos os dias aprender, desenvolver capacidades e se para tal tiver de questionar, sinto-me honrada em ser ajudada por quem ou a quem reconheço o "direito" a fazê-lo.
A resposta do Dr. Helder é uma resposta, um alerta, um acto de educação.
O seu comentário, meu caro anónimo ?
Não passa de um comentário anónimo, acossando quem não conhece ou sequer reconhece!

Anónimo disse...

Precisamente. Mas não se exalte tanto, não passo de um anónimo.