30.9.08

Frases parentéticas

Morde aqui

Talvez se recordem de um leitor, convenientemente anónimo, que me apontou o uso supostamente agramatical de períodos inteiros dentro de parênteses. Lembram-se? Pois bem, na altura, consultei a Academia Brasileira de Letras (ABL). A resposta desta denota um subtil traço de menosprezo, que remeti por inteiro, como era justo, para o leitor, que estava pela segunda vez a fazer o mesmo comentário. Disse a ABL: «Não há restrição quanto a isso. Leia em boas gramáticas sobre os diversos empregos dos parênteses. É interessante.»
Ando a ler o romance Adolescente Agrilhoado, de José Marmelo e Silva (1911-1991), escritor que tem agora a obra completa, não muito extensa mas altamente recomendável, publicada pela Campo das Letras. Há ali larguíssimas dezenas de frases parentéticas. E não se trata de modernices, não: a obra é de 1958, e a edição que estou a ler e vou citar, a 3.ª, de 1967.
«O cunhado, esforçando-se por reter as lágrimas, respirou, baixou as pálpebras. (Tinham ficado ambos ofegantes.) Decidiu-se, momentos depois, a encará-la severamente» (p. 131).

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se encolha os ombros se me enfade com a gratuitidade da insinuação que está sob o "convenientemente anónimo". Bom, o melhor é ficar-me garantia de que, se houver alguma utilidade nisso, o "convenientemente anónimo" se identificará pelo nome, filiação, naturalidade, morada, número do bilhete de identidade número de telefone, correio electrónico e tudo o mais que se ache conveniente. Questão é que sirva para alguma coisa, designadamente, para tirar desforço de qualquer inconveniência (não será o caso, seguramente) e não, apenas, o identificar pelo identificar.

É que, sabe, nesta coisa da internete, todos somos anónimos, salvas raríssima excepções, mesmo que identificados pelos nomes próprios. Quem, dos frequentadores dos blogues, conheceria um qualquer Francisco Antunes que subscrevesse um texto? E se conhecesse um Francisco Antunes, ele seria o conhecido ou outro?

E que dizer da ilusão do não anonimato que se pode criar com o uso de um nome formado a gosto? Que garantia haveria que o Francisco Antunes fosse um real Francisco Antunes?

A questão, portanto, não está no "assinar" ou deixar de "assinar" um comentário, mas na adequação das intervenções e na disponibilidade para enfrentar eventuais consequências de uma inconveniência ou coisa do género. E, quanto a isso, tanta garantia dá uma "assinatura" como um anónimo (na parte que me toca, já disse o que havia a dizer).
É por isso que a discussão sobre o anónimo e o identificado me parece uma minhoquice.
É assim que penso e, contra isso,... batatas, pelo menos até ver argumentos que convençam.

Há, todavia, uma utilidade no uso de um qualquer sinal distintivo, mas para quem faz os comentários, não para quem os lê: é não ser tomado por autor de comentários inconvenientes. Exemplificando: aquele comentário feito por um anónimo a outro de Maria Velho, não foi feito por este seu escrevinhador.

Por fim, a sua apreciação revela, no caso, uma razoável falta de subtileza: quem se apresenta, confessando ser "tocador de ouvido", como foi o caso, seguramente que não vem com a embófia de sabichão. O que quer é provocar uma resposta que lhe afaste dúvidas (apesar de me ter dado por vencido, ainda não percebi para que serve um parêntesis fora de um período, a formar, ele próprio um período). O estudo? Ah, sim, o estudo. O estudo só pode ir por coisas elementares: consultar o dicionário e a gramática que se tem à mão, na tentativa de eliminar erros próprios e considerar prováveis erros alheios. O tempo não dá para mais. Nem para o estudo próprio da profissão.

Continuarei a lê-lo, obviamente, e todos os dias e a manifestar-me anonimamente ou não, consoante for do meu gosto.

Saudações

Helder Guégués disse...

Não sabe se há-de enfadar-se, confessa. Se eu não andasse por aí, e toda a gente sabe por onde, não anónimo, talvez lhe perguntasse quais as consequências do seu enfado. Mas não pergunto. Quero, isso sim, que repare que, se eu gostava que quem comenta os meus textos se identificasse (há duzentos anónimos a comentar os meus textos ou apenas três? E como os nomeio? Logo, há sobretudo utilidade para quem os lê, para mim), nunca faço depender a publicação do comentário desse facto. Se tenho gosto em ter leitores (não escrevo só para mim), não perspectivo contudo um direito ao comentário.
Cordialmente,
Helder Guégués