É o que vamos ver
«A notícia foi revelada pelo diário ABC na sua edição de ontem. De acordo com este jornal espanhol, Jurij Salikov, um dos elementos da Tambovskaya (mafia russa) que se encontra detido em Maiorca foi investigado por ter estado ligado a uma operação de venda de aviões de guerra russos para um país africano, presumivelmente Angola» («Mafia russa negociou aviões de guerra para Angola», Diário de Notícias, 1.09.2008, p. 27).
Máfia ou mafia? O Diário de Notícias grafa sempre «mafia». Nos últimos anos, porém, só se lê e ouve a primeira. Escreve, a propósito, o consultor do Ciberdúvidas F. V Peixoto da Fonseca: «Em italiano é Mafia, nome próprio, esdrúxula mas sem acento gráfico, conforme preceitua a ortografia da língua. E é assim que se deve também pronunciar em Portugal como no Brasil: /Máfia/. A pronúncia do vocábulo como grave (/Mafía/) é pois errada e causada pelo desconhecimento do italiano, que leva a querer sujeitar a palavra às regras de acentuação portuguesas.»
«A notícia foi revelada pelo diário ABC na sua edição de ontem. De acordo com este jornal espanhol, Jurij Salikov, um dos elementos da Tambovskaya (mafia russa) que se encontra detido em Maiorca foi investigado por ter estado ligado a uma operação de venda de aviões de guerra russos para um país africano, presumivelmente Angola» («Mafia russa negociou aviões de guerra para Angola», Diário de Notícias, 1.09.2008, p. 27).
Máfia ou mafia? O Diário de Notícias grafa sempre «mafia». Nos últimos anos, porém, só se lê e ouve a primeira. Escreve, a propósito, o consultor do Ciberdúvidas F. V Peixoto da Fonseca: «Em italiano é Mafia, nome próprio, esdrúxula mas sem acento gráfico, conforme preceitua a ortografia da língua. E é assim que se deve também pronunciar em Portugal como no Brasil: /Máfia/. A pronúncia do vocábulo como grave (/Mafía/) é pois errada e causada pelo desconhecimento do italiano, que leva a querer sujeitar a palavra às regras de acentuação portuguesas.»
Será mesmo errada? Eu sempre disse e escrevi «mafia», porque será esdrúxula em italiano, mas em português é claramente grave, como muitas outras terminadas em –ia: biopsia, glicemia, hipocondria, leucemia, miopia, orgia, radioterapia, septicemia, tecnocracia, etc. (Podem pesquisar mais neste Rimário, muito útil, da autoria de Creusmar Pereira de Almeida.) Por analogia, então, mafia.
13 comentários:
Por analogia, então, mafia? E se for por analogia com Acácia, Beócia, Carélia, Dalmácia, Évora, Fábio, Grácio, Hélio, Itália, Júlia, Lúcia, Mérida, Noémia,Ossétia, Polónia, Quénia, Roménia, Sérvia, Tunísia, Xenófanes, Zâmbia, tudo isto por exemplo?
Haverá analogias e analogias?
Já agora: O dito Salikov pode ser da mafia ou da mafia, não sei. Mas duma coisa tenho a certeza: é um dos .. "que se encontram detidos em Maiorca" e não um dos "que se encontra detido em Maiorca". Ou não será?
Mistura muita coisa, e um facto salta à vista: não dá nem sequer um exemplo de um substantivo comum. Não é desta que me desconvence.
Quanto ao reparo final, deixei-o escrito há dias num comentário: um dos que exige verbo no plural. Nem todos os jornalistas me lêem ou me seguem. Felizmente, porque seria uma responsabilidade muito grande.
Cumprimentos,
Helder Guégués
Esse tipo de comentário dos consultores do Ciberdúvidas deixa-me sempre perplexo. Então temos de aprender todas as línguas do mundo para não cometer erros em português.
Sagácia, inimicícia, acácia, notícia, espécia, obstetrícia, perspicácia, contumácia, espurcícia, sécia, dalmácia, adventícia, salácia, patrícia, imundícia, mendácia, milícia, comendatícia, suspicácia, peripécia, acurácia, polícia, avarícia, daboécia, précia, audácia, letícia, farmácia, felícia, pertinácia, malícia, amicícia, pistácia, delícia, sevícia, facécia, estultícia, blandícia, icterícia, pervicácia, adultícia, eficácia, melícia, carícia, perícia, aurifícia, pudicícia, hemácia, divícia, puerícia.
Atenciosamente,
Alberto Martinet
A maioria, contudo, são graves, e as analogias, tanto quanto me é dado ver, são estabelecidas com a regra, ou não? Ou já não?
Cordialmente,
Helder Guégués
Prezado Sr. Guégués,
Tomando por base o Houaiss eletrônico (versão de novembro 2002), podemos estabelecer um rápido balanço.
Quantidade de palavras terminadas em:
ácia = 36
acia = 81
écia = 26
ecia = 9
ícia = 55
icia = 8
ócia = 4
ocia = 10
úcia = 15
ucia = 3
Total esdrúxulas = 136
Total graves = 111
Atenciosamente,
Alberto Martinet
pífio, fífia, prosápia, bazófia, embófia, farófia, bófia, empáfia, ráfia.
"Mafia" com acento na sílaba "fia" parece-me fenómeno de hipercorrecção. Em Portugal sempre se disse "máfia". A certa altura, alguém descobriu que em italiano não tem acento e que a palavra deveria ser aguda. Curiosamente, a palavra "mafia" signfica qualquer coisa como "basófia/empáfia".
pedro
Vamos então por partes:
1. Máfia/Mafia:
Não sabia que substantivos próprios não valiam. Não percebo qual é a relação entre uma coisa e outra: a classificação das palavras quanto à sua sílaba tónica (e consequências que daí advêm para a sua grafia e pronúncia) e o facto de se tratar de substantivos próprios ou comuns. Pode explicar-me, por favor?
Mas não seja por isso: azálea, basófia, carícia, domínio, entrópio, falácia, gáudio, hóstia,
índio, jónio, lábio, média, núbio, óbvio, pálio, química, ráfia, sábio, tília, urálio, velório, xântio, zéfiro. Todos substantivos comuns. Todos registados no Vocabulário da Língua Portuguesa, F. Rebelo Gonçalves, Coimbra Editora, Limitada, 1966.
2. Um dos que:
Aqui, a questão é outra. Se há dias deixou escrito num comentário "um dos que exige verbo no plural", assim, sem mais nem menos, pode ter induzido os seus leitores em erro. Como sabe, nem sempre é assim. Pois não?
Cumprimento-o e manifesto-lhe o meu grande apreço que desenvolve no seu blogue e não só
Os substantivos próprios não se conformam inteiramente com as regras da gramática, como deve saber, e sobre esta questão já aqui escrevi alguma coisa. A não ser assim, nunca eu, por exemplo, poderia escrever o meu apelido com dois acentos. Por outro lado, somente se compara o que é semelhante, julgo eu. Assim, não posso lançar mão, por exemplo, das palavras domínio, entrópio, índio, jónio, etc.
Quanto ao «um dos que», não foi dito assim sem mais, mas num contexto inequívoco.
Também eu o cumprimento pelo grande serviço que faz à língua através das suas exemplaríssimas traduções.
"Máfia", é igualmente grave. Não vejo grandes argumentos para defender quer /mafía/ quer /máfia". Parece-me, sim, que cada qual procurará justificar a sua preferência. Eu prefiro /máfia/. /mafía/ soa-me antiquado. PS: O Dicionário Porto Editora regista "máfia".
Ou seja, é as duas coisas, e não nos zangamos, que a vida não está para isso...
Peço desculpa, mas discordo da forma expedita como o dono da casa põe os convidados na rua! Tenho para mim que a solução tipo "albergue espanhol" é uma das grandes pechas da nossa Língua e abre a porta às maiores arbitrariedades. É as duas coisas e não nos zangamos, que a vida não está para isso? Então e se, sem nos zangarmos, tentássemos reflectir mais um pouco para desfazer este "empate técnico"? Porque não, por exemplo, defender que deve ser máfia e não mafia porque, independentemente da sua origem remota (sobre a qual parece não haver consenso) a palavra nos chegou através do italiano e nesta língua se diz máfia? Não seria uma boa razão para mantermos a sua estrutura fonética? Afinal de contas, dizemos Italia ou Itália?
Cumprimentos
Caro Francisco Agarez
Pensava que se percebia a minha ironia. É claro que mantenho a minha opinião, está aí escrita. E o debate pode e deve continuar até quando quisermos.
Cordialmente,
Helder Guégués
Enviar um comentário