10.9.08

Tradução. Tropa

A tradução, como sempre

«Porque é que a Rússia não saiu ainda da Geórgia? O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, explicou aos seus pares europeus que, “como sempre”, a culpa é da tradução” das preposições. Os franceses deram à Rússia o direito de garantir a paz “nas” províncias rebeldes. Só que os russos leram: garantir a paz “para” as províncias rebeldes» («A culpa é da tradução», Hugo Coelho, Diário de Notícias, 9.09.2008, p. 27).
Convenhamos: escrito assim, não se percebe imediatamente a diferença. Será um problema de tradução? Vejamos. No Le Nouvel Observatoire pode ler-se: «Bernard Kouchner avait ainsi confirmé les propos d’un responsable russe, qui avait expliqué, sous couvert de l’anonymat, que “dans la version russe, le texte évoquait la sécurité ‘de l’Abkhazie’ et ‘de l’Ossétie du Sud”, alors que “dans le document transmis à Saakachvili”, en version anglaise, “cela a été présenté comme ‘en Abkhazie et “en Ossétie du Sud”» («Un retrait complet des forces russes de Géorgie dans un mois», NOUVELOBS.COM, 09.09.2008).
Assim já se percebe: no texto russo do acordo, que é uma versão do francês, lê-se «da Ossétia do Sul» e «da Abcásia». Na versão inglesa apresentada a Saakachvili lê-se «na Ossétia do Sul» e «na Abcásia». É uma diferença crucial, pois a Rússia continua a manter os tanques e os seus soldados («as suas tropas», como sempre escrevem o Diário de Notícias e o Público, esquecendo-se de que «tropa» é um substantivo colectivo. Traduzem mal do inglês. Deixem lá as «troops» com os Ingleses!) no território georgiano.

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