23.9.08

Traduzir do espanhol

Dez milhões

      O Diário de Notícias de ontem refere que duas freiras das Concepcionistas Franciscanas de Segóvia, em Espanha (também estão em Portugal, em Campo Maior, no Mosteiro da Imaculada Conceição), têm um programa televisivo, um reality show, sobre culinária. Humildes, dizem: «“Para nós isto não é o estrelato, mas sim cumprir a vontade de Deus, prestando um serviço à comunidade como qualquer outro que nos tivesse enviado”, diz a irmã Beatriz, a mais veterana. A sua habilidade entre as panelas vem “das antigas mães”, um legado ainda visível na cozinha onde trabalha» («Freiras abrem a porta do convento em ‘reality show’», M. J. E., Diário de Notícias, 22.09.2008, p. 61).
      O que me intrigaria, se não tivesse logo intuído que é má tradução, é a palavra «mães». O artigo não cita fontes (porquê?), mas é quase integralmente mera tradução de um que aparece no sítio do jornal espanhol El Mundo. Eis o trecho acima: «“Para nosotras no ha sido un estrellato, sino cumplir la voluntad de Dios, prestando un servicio a la Comunidad como cualquier otro que nos hubieran mandado, ya que dependemos de la obediencia”, explica sor Beatriz, la más veterana. Su destreza entre fogones viene “de las madres antigas”, un legado aún visible en los anacrónicos calderos y un alicatado sin mácula que horrorizaría a cualquier decorador de platós» («Las ‘grandes hermanas’ de la cocina»).
      É claro que no contexto madres se traduz por «madres» e não por «mães». É que em espanhol madre também é o «título que se da a ciertas religiosas». E mais: «como cualquier otro que nos hubieran mandado» não se traduz por «como qualquer outro que nos tivesse enviado», mas sim por «como qualquer outro que nos tivessem ordenado». A parte final da frase, «un legado aún visible en los anacrónicos calderos y un alicatado sin mácula que horrorizaría a cualquier decorador de platós», ficou prudentemente truncada em «um legado ainda visível na cozinha onde trabalha». Antes assim.

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