2.12.08

Abuso de estrangeirismos

Para fugir


      O fascínio pelos estrangeirismos continua a deixar às escuras os leitores da imprensa. Tome-se este excerto de uma notícia («Outro leilão e é oficial: a arte está em crise», Inês Nadais, 8.11.2008, p. 21) do Público: «O mercado da arte moderna e contemporânea voltou a dormir mal, ontem, depois de mais um leilão em underacting na Christie’s de Nova Iorque: a leiloeira vendeu, mas não vendeu tanto como esperava, tendo ficado 100 milhões de dólares (cerca de 77 milhões de euros) abaixo da fasquia, já de si muito defensiva, estipulada em função das obras incluídas no lote.»
      Para os leitores, e são milhares, que não sabem o que significa underacting, e para os quais estar lá underacting ou Unterspielend é rigorosamente igual, é um desrespeito. Estrangeirismos, sim, mas os estritamente necessários, e estes, se não forem muito conhecidos, explicados. Não me parece uma regra difícil de compreender nem de aplicar.
      Mas o fascínio chega a isto: usarem-se palavras estrangeiras que não interessam ao leitor. Ou melhor: que não adiantam nem atrasam. Decorativas. Um exemplo de hoje: «De acordo com o Centro Marree de Veneza (Centro das Marés), as águas subiram mais de metro e meio, alimentadas pelas chuvas e empurradas pelo vento que afectam toda a Itália. Mais de 95% do centro histórico da cidade dos canais ficou inundado na que foi considerada a maior acqua alta (cheia) desde 1986» («Veneza vive piores cheias em 22 anos», Hugo Coelho, Diário de Notícias, 2.12.2008). Muito bonito, sim senhores. E se a mim, como leitor, me interessar muito mais como se diz barco em italiano, para poder fugir?

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