Mas vendo bem
Fiquei surpreendido com o número de vezes que Silveira de Mascarenhas, na tradução de A Study in Scarlet, escreve «fazer alto». Escavei na memória e, que me lembre, só em livros que li na passagem da infância para a adolescência li tal locução. Na página 101, por exemplo, lê-se: «Ao chegarem ao sopé do monte escarpado, fizeram alto e entretiveram um breve conselho.» No original, lia-se: «On reaching the base of the bluff they halted, and held a short council among themselves.» Não duvido, contudo, da vernaculidade, pois também li recentemente no conto «Perdão» de João de Araújo Correia: «O director de montaria, chegando a uma clareira, fez alto» (Contos Bárbaros. Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p. 132). E no romance Procissão dos Defuntos, de Tomaz de Figueiredo (2.ª edição. Lisboa: Editorial Verbo, 1967, p. 34): «De longe em longe a cavalgada fazia alto, e logo as duas botavam as cabeças aterradas fora da liteira.»
Fiquei surpreendido com o número de vezes que Silveira de Mascarenhas, na tradução de A Study in Scarlet, escreve «fazer alto». Escavei na memória e, que me lembre, só em livros que li na passagem da infância para a adolescência li tal locução. Na página 101, por exemplo, lê-se: «Ao chegarem ao sopé do monte escarpado, fizeram alto e entretiveram um breve conselho.» No original, lia-se: «On reaching the base of the bluff they halted, and held a short council among themselves.» Não duvido, contudo, da vernaculidade, pois também li recentemente no conto «Perdão» de João de Araújo Correia: «O director de montaria, chegando a uma clareira, fez alto» (Contos Bárbaros. Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p. 132). E no romance Procissão dos Defuntos, de Tomaz de Figueiredo (2.ª edição. Lisboa: Editorial Verbo, 1967, p. 34): «De longe em longe a cavalgada fazia alto, e logo as duas botavam as cabeças aterradas fora da liteira.»
2 comentários:
Por outro lado, não causa a nós, brasileiros, uma surpresa semelhante a sua, por conta do constante uso da referida locução. Aqui e acolá, pode-se constatar textos (traduções ou não) que lançam mão dela, tal como em uma determinada passagem do segundo parágrafo do prólogo de Genealogia da Moral (Zur Genealogie der Moral), traduzido em 1987 por Paulo César de Souza. Lá, pode-se ler: "'Humano, Demasiado Humano. Um livro
para espíritos livres', e cuja redação foi começada em Sorrento, durante um inverno, que me
permitiu fazer alto, como um andarilho faz alto, e abarcar com o olhar o vasto e perigoso país
através do qual meu espírito até então fizera sua andança". No original, eis como consta: "Menschliches, Allzumenschliches. Ein Buch für freie
Geister“, und deren Niederschrift in Sorrent begonnen wurde,
während eines Winters, welcher es mir erlaubte, Halt zu machen
wie ein Wandrer Halt macht und das weite und gefährliche Land
zu überschauen, durch das mein Geist bis dahin gewandert war".
Parece-me adequada a solução encontrada pelo autor para a transliteração da locução alemã “Halt machen”, justamente por não se tratar propriamente de uma solução -- dado que não houve um problema de fato.
"Fazer alto" e "Halt machen" correspondem-se exatamente, nenhuma delas significando mais ou menos que a outra. Haveria, contudo, um certo prejuízo semântico, caso o tradutor houvesse se servido do verbo "parar" para traduzir "Halt machen", pois não é à toa que Nietzsche alude ao fazer alto militar.
Intenta o filósofo com “Halt machen” transmitir ao leitor a seriedade de sua reflexão acerca de seu passado intelectual e era justamente o que fazia Nietzsche nos anos de 1885-87 (também época da redação de Para Além de Bem e Mal e Genealogia da Moral). Testemunha isso o fato de, no referido período, Nietzsche ter escrito os prólogos de O Nascimento da Tragédia, Humano, demasiado humano I e II, Aurora e Gaia Ciência, todos livros constantes de sua primeira e segunda fases de produção intelectual, isto é, de 1872 a 1882. Levando-se em conta tais prefácios, percebe-se com relativa facilidade aquilo que aponto: “Halt machen”, longe de constituir simples repouso, assemelha-se à prática militar, na qual fazer alto realiza-se sem jamais perder de vista a finalidade da campanha militar (no caso de Nietzche, uma reavaliação de suas ideias à luz de concepções originadas em seus últimos anos de vida espiritual, a fim de compreender seu próprio percurso intelectual e a finalidade de sua existência), ou à do andarilho, que faz alto a fim de ponderar sobre o trajeto a percorrer e a tudo o que o percorrer de um trajeto possa implicar.
Pois cá estou lendo o Correio da Manhã de 28 de março de 1929, onde os americanos dispararam sobre uma escuna a "I'm alone" que se recusou a "heave to" para os fanáticos da lei seca. No inquérito determinaram que o barco não era obrigado a "fazer alto" pois estava em alto mar a mais d 12 milhas do litoral americano.
Fico na dúvida se "fazer alto" traduz o "heave to" que é uma expressão náutica. --tradutoramericano.com
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