24.12.08

Sobre «fronha»


Quando havia povo


      Alguns dicionários ainda registam fronha na acepção popular de «cara, rosto, máscara», que, quando calha, se ouve. Há anos, Tomaz de Figueiredo foi ouvir a senhora Maria da Conceição Gomes, a tia Maria Berrelha, que o escritor inscreveu no rol dos seus mestres de linguagem. E esta senhora, que sabia muito, «só ler é que não, sem que lhe faça e fizesse minga», explicou porquê fronha: «Uma fronha, sim, a máscara de Entrudo que enfiavam pela cabeça os estúrdios aldeões, fronha de croché, alguma de crivo — já luxo de bragal centenário —, e vazada, assim. A moça ou o moço da folia a ver para fora, ninguém a ver-lhe a cara às gradinhas ou aos buraquinhos, atrás daquele reposteiro de intriga e traição. E, lá dos buraquinhos e gradinhas, da trama de algodão ou dos espreitadoiros de linho, a narigar acusas, podres e marmanjarias, amores nada católicos, a crónica secreta dos sítios, o diabo a quatro. Mas também declarações de amores envergonhados, lá isso é verdade, aos ouvidos e em fala natural, meiga…» (Tomaz de Figueiredo. Dicionário Falado. Lisboa: Editorial Verbo, 1970, p. 242).

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