14.1.09

De «banir» a «bandido»

«Banem»?

Cara Maria João Pires: comecemos pelo fim. A edição de 1913 do dicionário de Cândido de Figueiredo, que espero Luís Lavoura não inclua nos pós-modernos, se regista que banir é «desterrar, lançar fora de um país», conforme à etimologia latina, não deixa igualmente de registar que significa, decerto por extensão de sentido, «excluir, tirar, suprimir». Resta a objecção inicial de Luís Lavoura: to ban é «to prohibit especially by legal means: ban discrimination; also: to prohibit the use, performance, or distribution of: ban a book; ban a pesticide» (in Merriam-Webster). Ora, esta acepção só é registada pelos «pós-modernos», como o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «eliminar; suprimir; proibir». Mas não pelo Dicionário Houaiss.
Não tenho, e quem me acompanha sabe que é assim, nenhuma posição de princípio contra novas acepções em vocábulos já de uso em português. Pondero sempre em cada caso, e neste creio que nada custa enriquecermos a língua acrescentando esta às acepções já dicionarizadas. Assim, só me causa alguma estranheza aquele «banem», e com razão, comprovei-o agora: alguns dicionários dizem que o verbo banir é defectivo, usando-se do presente do indicativo apenas as formas «banimos» e «banis». Temos a solução à vista: «Porque não banimos de vez as bombas de fósforo branco?»
O nosso banir provém do latim tardio bannire e este do gótico bandwjan, intermediado pelo francês bannir, «assinalar, proclamar», significado que manteve até ao século XIII. A partir desta altura, toma então o significado de proclamação da expatriação, do exílio de um cidadão nacional. Banir e desterrar é o mesmo. O nosso bandido, por exemplo, deriva deste banir, porque bandido é o que foi banido da sociedade, o fora-da-lei que vive de expedientes.

Actualização em 26.05.2009

«Esta [Igreja da Cientologia] está agora no banco dos réus por fraude e arrisca-se a uma multa de cinco milhões de euros, além de poder ser banida de França se for considerada culpada» («França acusa Cientologia de fraude e ameaça bani-la», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 26.05.2009, p. 23).
«A muito controversa Igreja da Cientologia, considerada em França como uma seita, será de novo julgada hoje, em Paris. Responde por fraude. Só que desta vez as suas estruturas no país poderão ser simplesmente banidas» («Cientologistas podem ser banidos de França», Público, 25.05.2009, p. 13).

Actualização em 27.05.2009


Cá está de novo a acepção posta em causa: «Casamentos gay ficam banidos na Califórnia» (Isabel Gorjão Santos, Público, 27.05.2009, p. 17).

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