19.2.09

Léxico: «mantéu»


Vejamos

Um amigo telefonou ontem para me perguntar se já tinha visto o cartaz da Expolíngua 2009. Que sim, e?... «Eh, pá, tu sabes: como se chamam aquelas golas?» Bem, é uma gola de folhos. «Mas tem outro nome.» Acho que também tem a designação, salvo erro, de mantéu. «Mantéu? Mantéu? Mas isso não é um traje folclórico dos Açores?» Fiquei de confirmar.
De facto, mantéu ou mantéo (do latim mantelum), como regista o Dicionário de Morais, é a «peça de adornar o pescoço, de várias feições, enrocado, desfiado, de abanos, à Balona, etc.». E acrescenta que nos «retratos antigos até o d’el-rei D. Sebastião se vêem os taes mantéus». Enrocado quer dizer pregueado, e Morais no verbete «enrocar» esclarece: «Fazer pregas, que se usavam antigamente nos mantéus, ou voltas do pescoço.» A referência a D. Sebastião (1554-1578) é crucial. No retrato de D. Sebastião atribuído a Cristóvão de Morais e patente no Museu Nacional de Arte Antiga o rei é representado com um mantéu. Também a sua contemporânea Isabel I (1533-1603) é representada com um mantéu (ruffle lace collar, em inglês), pois era uma peça de vestuário quinhentista usada por ambos os sexos. O desta rainha teria cerca de 60 centímetros de diâmetro, para o que seriam necessários à volta de 16 metros de tecido fino. Assim, a definição de «mantéu» — «colarinho largo com abas pendentes» — que encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora está errada. E mais: este dicionário não regista todas as acepções do vocábulo, pois falta, por exemplo, a de traje académico coimbrão, o mantéu talar, que era usado com ou sem capelo.
Fernando Campos, na obra A Casa do Pó, retrata Camões de «gola de folhos, colete de fendas avelutadas, coçado, capa pendente do ombro, calções tufados pela coxa, a meia torneando a perna até morrer nos borzeguins de couro». Na imagem do cartaz da Expolíngua, só temos o mantéu de papel, que o tecido é caro e a goma não a sabem fazer, e a fazer de colete uma blusa bordada fabricada na China. Alguém emprestou a pala. A parede parece ser a do Palacete Seixas, na Avenida da Liberdade, sede do Instituto Camões.

1 comentário:

anareis disse...

Estou fazendo uma campanha de doações para criar uma minibiblioteca comunitaria na minha comunidade carente aqui no Rio de Janeiro,preciso da ajuda de todos.Doações no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Que DEUS abençõe todos nos.Meu e-mail asilvareis10@gmail.com