24.4.09

«Recebedor», «recipiente», «recipiendário»


Dilemas

      «O seu afã de satisfazer a necessidade (real ou imaginária) do recebedor era tão grande que nem sempre pensava no efeito que a sua impulsividade produzia no dador involuntário» (Património, Philip Roth. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão tipográfica de Eulália Pyrrait. Lisboa: Dom Quixote, 2.ª ed., 2008, p. 26). Não sei que palavra está no original em vez daquele «recebedor», mas imagino facilmente que será «recipient». Não têm conta as vezes que já emendei em traduções, de novatos mas não só, a tradução de «recipiente» para «destinatário», ou, num circunlóquio, «aquele que recebe» ou algo que o valha. Se recipiente me faz apenas e logo lembrar uma vasilha, recebedor traz-me à memória o Cobrador do Fraque (que eu nunca vi nenhum à frente). Que sim, leitor virulento, recipiente também significa «o que recebe», tal como recebedor. Já temos sorte (temos?) por esses tradutores não optarem por recipiendário. Sim, também significa «que ou aquele que tem de receber qualquer coisa». Acho que, sem deixar passar, os desculparia mais indulgentemente, pois recordo-me da emoção que foi, teria 15 anos, a descoberta desta palavra.

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