Vontade de comunicação
Fez agora um ano que Fernando Venâncio escreveu no Aspirina B: «Nós somos, uns mais outros menos, mas todos um pouco, uns fetichistas da ortografia. Nisso não há mal. O problema surge quando, com o balde da ortografia, se deita fora o bebé do idioma.» Incongruências à parte, não creio que tinha sido isto que se fez com o Acordo Ortográfico de 1990. Tenho nas mãos a 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com as suas 877 páginas (é sintomático que a imprensa portuguesa avente números diferentes deste) e, segundo informação da editora, 349 737 vocábulos com as suas respectivas classificações gramaticais, além dos cerca de 1500 estrangeirismos que aparecem no fim. Mais do que uma pedra, mesmo angular, creio que será a superstrutura do futuro e necessário vocabulário ortográfico comum exigido pelo Acordo Ortográfico de 1990. Junte-se-lhe depois os contributos da Academia das Ciências de Lisboa, o contributo, já entregue, da Academia Galega da Língua Portuguesa e, naturalmente, o contributo dos demais países de língua oficial portuguesa.
Mas ainda a propósito da afirmação de Fernando Venâncio, lembro o que Fernando Cabral Martins escreveu nas notas à edição da Mensagem, de Fernando Pessoa, que aqui citei recentemente: «A edição de David Mourão-Ferreira [6.ª edição da Ática, 1959] é a primeira a propor a actualização ortográfica de um livro que parecia apostar na inactualidade. Isto é: a ortografia utilizada por Pessoa em 1934 era arcaica em relação à convenção dominante nesse tempo, o que poderia ser recebido, como por vezes o é, como uma ortografia simbólica e intocável» (Mensagem, Fernando Pessoa. Edição de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Assírio & Alvim, 3.ª ed., 2002, p. 93). A obra de Pessoa perdeu com o critério? Perderam algo os leitores? Não me parece. Conclui Fernando Cabral Martins: «Quer dizer: a vontade de comunicação que tornou Mensagem o único livro em português publicado por Pessoa só pode ser hoje servida por uma escolha de legibilidade.» A ortografia é, sem qualquer dúvida, importante, mas não é a essência da língua.
Fez agora um ano que Fernando Venâncio escreveu no Aspirina B: «Nós somos, uns mais outros menos, mas todos um pouco, uns fetichistas da ortografia. Nisso não há mal. O problema surge quando, com o balde da ortografia, se deita fora o bebé do idioma.» Incongruências à parte, não creio que tinha sido isto que se fez com o Acordo Ortográfico de 1990. Tenho nas mãos a 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com as suas 877 páginas (é sintomático que a imprensa portuguesa avente números diferentes deste) e, segundo informação da editora, 349 737 vocábulos com as suas respectivas classificações gramaticais, além dos cerca de 1500 estrangeirismos que aparecem no fim. Mais do que uma pedra, mesmo angular, creio que será a superstrutura do futuro e necessário vocabulário ortográfico comum exigido pelo Acordo Ortográfico de 1990. Junte-se-lhe depois os contributos da Academia das Ciências de Lisboa, o contributo, já entregue, da Academia Galega da Língua Portuguesa e, naturalmente, o contributo dos demais países de língua oficial portuguesa.
Mas ainda a propósito da afirmação de Fernando Venâncio, lembro o que Fernando Cabral Martins escreveu nas notas à edição da Mensagem, de Fernando Pessoa, que aqui citei recentemente: «A edição de David Mourão-Ferreira [6.ª edição da Ática, 1959] é a primeira a propor a actualização ortográfica de um livro que parecia apostar na inactualidade. Isto é: a ortografia utilizada por Pessoa em 1934 era arcaica em relação à convenção dominante nesse tempo, o que poderia ser recebido, como por vezes o é, como uma ortografia simbólica e intocável» (Mensagem, Fernando Pessoa. Edição de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Assírio & Alvim, 3.ª ed., 2002, p. 93). A obra de Pessoa perdeu com o critério? Perderam algo os leitores? Não me parece. Conclui Fernando Cabral Martins: «Quer dizer: a vontade de comunicação que tornou Mensagem o único livro em português publicado por Pessoa só pode ser hoje servida por uma escolha de legibilidade.» A ortografia é, sem qualquer dúvida, importante, mas não é a essência da língua.
3 comentários:
Bom dia
Sem outra forma de o contactar, opto pelos comentários. Gostava de colocar-lhe uma dúvida: qual o feminino de lobisomem? O Ciberdúvidas propõe mulher-loba, o que não me agrada, quanto mais não seja porque me lembra "crianças-lobo", uma designação que acho que é pouco usada (mas existe) para crianças/meninos selvagens. Além disso, da mesma maneira que digo "um filme de lobisomens" e não "de homens-lobos", dizer "um filme de mulheres-lobas" soa mesmo muito mal. Há alguma coisa contra a forma "lobimulher", para além de não existir (que eu saiba)?
Muito obrigada pela sua atenção
Margarida
Não vejo nada contra a forma «lobimulher».
Muito obrigada.
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