20.5.09

Iliteracia

Senhora doutora

Afinal, o uso de telemóvel nas aulas talvez seja benéfico… Só assim pudemos ficar a saber como se exprime aquela professora de História da Escola Básica 2,3 Sá Couto, de Espinho. «Quem corrige os testes sou eu, tu nem sabes no que te metestes», disse a professora, que se ufana de ter andado doze anos na escola, quatro na faculdade, dois nos estágios, dois numa pós-graduação e um numa especialização… Tudo para quê? Ó mediocridade, ó tristeza!
A 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo dos verbos não tem s final: amaste, baixaste, caíste, deste, erraste, fugiste, gaguejaste, houveste, içaste, jornadeaste, leste, meteste, naufragaste, oleaste, partiste, quiseste, roubaste, suaste, troçaste, usaste, vieste, xadrezaste, zuniste…

6 comentários:

Anónimo disse...

Se até uma pós-estagiada-pós-graduada-pós-mestrada-pós-licenciada *diz* "metestes", já não é só o "povinho" que o diz. Não é então tempo de legitimar a forma verbal, alterando a gramática? Ou só quando uma gramática conceituada incluir o "metestes" e o "hádem" é que se podem *dizer* essas formas sem se ser apodado de analfabeto?

Ou seja, mais uma vez, o que é que surgiu primeiro: a gramática ou a língua?

Paulo Araujo disse...

1-Se a cada forma agramatical for a gramática modificada para aceitá-la, não se precisará mais de gramática...
2- Um linguista brasileiro, "iconoclasta" da gramática, bastante famoso no meio, soma dezenas de edições de um livro no qual respeita absolutamente a... gramática.

Claudio MGN disse...

Sou brasileiro e adorei este teu blogue!
GANHASTE um novo leitor!

Anónimo disse...

Claro que *não* se precisa de gramática para *falar*. Há 40 anos que ouço dizer "metestes", mesmo em licenciados, e nunca vi nem uma entrada numa gramática a dizer que seria uma variante, vá lá, *inculta*.

Em 40 anos os dicionários evoluíram, e já registam desde o "envelope" ao "bué"; em 40 anos, as gramáticas limitaram-se a trocar as voltas à terminologia, sem evoluírem minimamente.

Catarina disse...

Anónimo, aconselho a leitura do conto (repleto de ironia) de Luísa Costa Gomes, Hades. Eis um pequeno excerto:«- Por que é que hadem estar sempre a discutir, mesmo no dia dos meus anos?» É desta forma que devemos falar e escrever?

Anónimo disse...

Catarina, não se trata de aprender ou não o português formal ou o latim dos seus avós, trata-se de reconhecer a evolução da língua, de reconhecer que os advérbios começam a ser flexionados (muita fixe, não é?), e que as formas verbais também evoluem.

Voltando ao "metestes", as desinências não foram inventadas e aplicadas por decreto! Foram os gramáticos que descobriram os padrões das desinências *tal como existiam no momento em que os observaram*, e os descreveram nas gramáticas. Depois vêm uns fundamentalistas transformar essas descrições em mandamentos na pedra! Isso é que não *tá* bem, *stora*!